Semana Mundial do Meio Ambiente e Boi Bumbá

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Estamos na Semana Mundial do Meio Ambiente. Esse tema merece muita atenção porque envolve a vida humana. Neste primeiro capítulo, tratarei da questão ambiental no varejo, após, falarei no atacado.

Parintins. Foto: Yuri Pinheiro

Vejo com muita preocupação o tema da coleta de lixo municipal, pois o lixo doméstico da cidade é coletado e levado para um lixão a céu aberto, multiplicando os vetores de transmissão de doenças , contaminando os lençóis freáticos e causando poluição. Ou seja, o lixo é apenas transportado de um lugar para outro, sem ter destinação adequada pelas regras sanitárias. Diga-se mais, que entra Prefeito e sai Prefeito e o problema do lixão continua. Aliás, essa temática é vista com pouco interesse pelo Poder Público, que faz vista grossa para o assunto, no máximo, quando abordado faz promessas e mais promessas sempre esquecidas.

O assunto se torna mais sério e preocupante quando se trata do lixo hospitalar. O destino deste resíduos infecciosos é descartado de forma inadequada. Assim sendo, devemos levar esse debate a todos os setores da sociedade, vez que é de interesse social a questão de haver na cidade o aterro sanitário. Como disse, o que existe em Parintins é um “Lixão” contaminador da natureza. Nesse contexto, devemos apoiar e incentivar o Ministério Público local, visando por um fim no descaso Municipal com o meio ambiente.

Pois bem, no varejo tem sido importantíssimas as atitudes do Rally Ambiental, a começar pelo bom exemplo da coleta de lixo pelos lagos e igarapés, plantio de árvores, saneamento de logradouros públicos, campanhas educativas, limpeza dos mananciais aquíferos além de tantas outras ações sanitárias, com o fito de promover uma vida saudável aos habitantes da cidade. Quem não cuida do meio ambiente também não cuida de sua própria saúde, pois uma depende da outra como a vida depende do ar para respirar.

Entretanto, falar de Parintins é sinônimo de falar do Boi Bumbá, estamos no mês de junho onde aqui é celebrado o maior teatro popular a céu aberto. Porém, face a esta terrível pandemia global, ficaremos sem o festival de Parintins conhecido no Mundo inteiro, mas não passará em branco por todos que fazem esta festa. De minha parte, como simples compositor, entendo que a toada deve transmitir conhecimentos, especialmente para as crianças e adolescentes, sobre história, geografia, língua portuguesa, e, principalmente educação ambiental, que a meu ver como Professor de História deveria ser matéria obrigatória da grade curricular do ensino fundamental e médio. Somente a educação transforma a sociedade para o desenvolvimento do bem estar social. Ponham livros nas mãos das crianças e abominem as armas que matam.

Muito bem amigos Rallyzeiros, falando em toada, conhecimento e educação ambiental, vos convido a ouvirem a toada de minha autoria intitulada “Oração das Águas”, que consta no Cd Garantido 2015.

Portanto, essa é a minha singela contribuição para a Semana Mundial do Ambiente. Parabéns a todos os amigos e amigas do Rally Ambiental de Parintins.

Oração das Águas.

David Jeronimo.

Professor de Filosofia e História, Promotor de Justiça aposentado e Advogado.

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Maquiavel e a Corrupção

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NICOLAU MAQUIAVEL

  • NICCOLO MACHIAVELLI

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Nicolo Di Bernardo Dei Machiavelli

Apesar da fama de seus textos e do adjetivo que se criou – “maquiavélico”-, Nicolau Maquiavel não foi um homem maquiavélico. Nascido em 3 de maio de 1469, em Florença, na Itália, filho de Bernardo Maquiavel e Bartolomea de Nelli, teve na infância, a formação típica de um humanista, com ênfase no estudo das Letras e do Direito, profissão de seu pai, que era advogado. Grande conhecedor de latim e escritor habilidoso, Maquiavel cresceu num ambiente simples, porém culto, no qual pode estudar os grandes autores da Roma antiga.

Nicolau Maquiavel, morreu no dia 21 de junho de 1527, aos 58 anos de idade, na cidade de Florença.

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Rio Arno, Piazza Michellangelo e ao fundo a Catedral del Fiori, conhecida como Duomo. Pintura de Katherine Seger

  • Nessa síntese, vamos conhecer um pouco do grande Maquiavel

Os adjetivos vinculados aos nomes de pessoas nos informam algo doque fizeram importantes personalidades. Vários aspectos de conotação negativa, fazem referência ao adjetivo Maquiavélico, contribuindo para uma versão para criar uma errônea imagem sobre o pensamento e a figura de Maquiavel. Sua obra mais importante, O Príncipe, analisa a política e o poder, a arte de governar sem derrota dentre outras coisas. Esse homem foi na verdade um dos mais importantes pensadores políticos do Renascimento e da filosofia moderna.

Nicolau Maquiavel é um dos mais destacados pensadores do Renascimento italiano, e os motivos que justificam essa posição não são poucos. Foi chanceller de Florença, com apenas 29 anos de idade, em 1498.

A partir de então foi considerado um dos mais influentes e habilidosos políticos que serviram ao poder dessa cidade, durante o domínio da família Médici.

A REPÚBLICA DE FLORENÇA

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Piazza della Signoria em Florença, na Itália

Florença possuía um sistema eleitoral inovador para os padrões da época. Candidatos eram escolhidos e se submetiam ao voto da população. Aqueles que obtinham mais de 2/3 dos votos tinham seus nomes colocados numa bolsa para sorteio. Os sortudos então iriam ocupar cargos no governo. Entretanto, nem sempre o sorteado era aceito para tal cargo. Daí entrava o poder dos Médicis para decidir politicamente a vaga.

LOURENÇO DE MÉDICI, O MAGNÍFICO

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Lourenço de Médici, o Magnífico, grande mecena do Renascimento, não deixou dúvidas quanto ao seu estilo centralizador e aristocrático de governo. Príncipe de Florença (1469-1492), reprimiu revoltas contra seus opositores, inclusive contra o Papa Sisto V.

O PAPA JULIO II

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Papa Júlio II, pintura de Raffaello Sanzio Da Urbino

Maquiavel no governo de Lourenço de Médici, esteve em missão diplomática em Roma, na corte do Papa Júlio II, entre agosto e outubro de 1506. O que lhe impressionou na figura do Papa, era o ímpeto belicoso e conquistador de Júlio II. Ou seja, esse Papa declarava guerra e mandava anexar os domínios dos vencidos.

Em O Príncipe, se encontra relatos e o julgamento que fez da postura militar do Papa Júlio II, conhecido como “Terrível”

MUITO ALÉM DE MAQUIAVEL

Vítima constante de interpretações equivocadas de O Príncipe, sua má fama começou logo depois de primeira publicação em 1531. Os manuscritos são de 1513. Tais interpretações deram origem ao termo “Maquiavélico”, adjetivo incorporado ao nosso vocabulário,como sendo àquele que age por má-fé, velhaco, ardiloso, falso, astuto e etc.

A história dessa má fama de Maquiavel é bastante curiosa. Ele escreveu O Príncipe, logo após ser demitido da Chancelaria de Florença em 1512. No dia 10 de dezembro de 1513, ele escreveu uma carta endereçada ao seu amigo Francesco Vertori, onde relata que: “Acabara de escrever um livro sobre os principados e gostaria de presenteá-lo ao novo Papa Leão X”.

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O Retrato do Papa Leão X,  Cardinal Luigi de’ Rossi e Giulio de Medici, c.1513/18 | Artista: Raffaello Sanzio

Esse Papa era natural de Florença e chamava-se Giovanni de Médici, filho de Lourenço de Médici o Magnífico. Nascido em Florença em 1475 e falecido em Roma em 1521. Aos 13 anos de idade foi nomeado Cardeal e em 1513 foi eleito Papa. Tentou manter boas relações com os Estados potências da época, para conservar sua independência e fortalecer o domínio dos Médici.Governou junto com seu irmão Giulianno. Grande protetor das artes e das letras, foi mecena de humanistas e amante do luxo e da beleza, representando os ideais do Renascimento.

Não se sabe o motivo, mas o Papa Leão X não recebeu o livro de presente. E acabou sendo O Príncipe, dedicado ao poderoso Lourenço de Médici, Príncipe de Florença.

COMO NASCEU O TERMO: “MAQUIAVÉLICO”

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Edição Original de O Príncipe, obra prima de Maquiavel

A edição manuscrita de O Príncipe, passou a circular entre amigos. Somente 5 anos após a morte de Maquiavel em 1532, foi publicado esta obra que ficou para sempre na história.

Pois bem, com o livro circulando na Europa ao longo dos 3 séculos seguintes, as atenções se voltaram para aspectos inusitados do “Príncipe”. Vejam a que diz alguns trechos do livro:

  • O governante deve fazer o mal de uma só vez e o bem deve fazer aos poucos.
  • O príncipe deve parecer ser bom, mas não sê-lo de fato.
  • Dê poder ao homem, e descobrirá realmente quem ele é.
  • Desconfiar dos amigos quelhe bajulam e acreditar nos inimigos que lhe temem.
  • A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam.
  • É melhor o Príncipe ser temido do que amado.

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Edição publicada em Amsterdã em 1686.

Então, sentenças como estas que rompem com a tradição do governante bonzinho, podem parecer que o governante deveria ser  mais um déspota do que um patriarca da pátria.

Essa falsa imagem, perdura até hoje entre aqueles que ainda não leram com atenção O Príncipe.

Em meados do século XIX e ao longo do século XX, novos estudos mostraram uma outra face do livro, revelando ser ele uma dos principais obras da filosofia política de todos os tempos.

 A CORRUPÇÃO SEGUNDO MAQUIAVEL

O pensador italiano Maquiavel, demonstra que a corrupção gera a decadência e a ruína dos Estados.

Estamos vendo diariamente e surpresos as denúncias sobre desvios de conduta de políticos e governantes, de diferentes partidos e correntes ideológicas. Ou seja, a corrupção é uma desgraça que soterra o conceito de bem público, sem distinção partidária, com raras exceções.

Em meio a toda essa enxurrada de suspeitas, o povo tenta entender a tudo isso, fazer comparações e ligações, descobrir quando essa bandalheira começou, e como vai ficar o país daqui pra frente.

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Estátua de Maquiavel, de autoria do escultor Lorenzo Bartolini (1777 – 1850) na Galleria degli Uffizi (Museu dos Ofícios), em Florença

No meio popular da sociedade brasileira, há uma máxima que diz: “Entrou na política vai ser corrupto”. Nem tanto. Em tais ocasiões convém retomar os ensinamentos dos filosófos, que explicaram mecanismos que parecem ser da própria natureza do mundo político.

Pois bem, um desses filósofos foi Nicolau Maquiavel. Ele elaborou uma ampla reflexão política, consagrando também um lugar para a corrupção das instituições políticas. Ruína, decadência ou corrupção, esses três termos refletem um mesmo processo de dissolução das estruturas das instituições políticas, o que provavelmente ocorrerá se nada for feito.

 A CORRUPÇÃO HISTÓRICA

Para entender esse tema, Maquiavel foi buscar na Velha Roma, especialmente nos DISCURSOS SOBRE A PRIMEIRA DÉCADA DE TITO LÍVIO. Esses discursos, são comentários de Maquiavel sobre o que escreveu o historiador romano Tito Lívio (59 a.C- 17 d.C).

Ele pesquisou o funcionamento da vida política romana, buscando os elementos que sustentaram o esplendor e a grandeza de Roma durante séculos.

O GERME DA CORRUPÇÃO

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Família Borgia, conhecia por seu poder e influência perante Roma e a Igreja

Depois de compreender a vida política interna romana, Maquiavel chegou a seguinte conclusão: “A corrupção é uma doença que se espalha”. Na vida política, em qualquer instância, haverá o germe da corrupção. A degeneração das coisas ligadas à esfera política é aplicável a todas as partes. Ou seja, no universo político não há nada que seja imune por natureza. Daí,todo cuidado é pouco com a corrupção.

DOENÇA QUE SE ESPALHA

Maquiavel disse que a corrupção é identificada uma doença que recai, primeiramente, sobre alguma parte, nas que fatalmente pode contaminar o corpo todo, se nada houver para dissipá-la. Então, assim como a doença afeta determinado órgão humano, igualmente essa doença que acomete a vida política começa em alguma organizaçãoe, se não for tratada corretamente e pode levar à morte. Na vida pública, isso mesmo leva a ruína do Estado Nacional.

O QUE FAZER CONTRA A CORRUPÇÃO. O REMÉDIO

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Maquiavel o grande pensador político do Século XVI

Diz o filósofo Maquiavel, que contra esse processo degenerativo que parece inevitável, há alguns remédios ou procedimentos que garantam a permanência de uma República.

Dentre as várias coisas que garantam  a conservação de um Estado, convém destacar duas:

  1. A aceitação do conflito como algo salutar na vida política e;
  2. A existência de Instituições políticas livres.

Conclui-se então que:

  1. Ele aponta que a existência de disputas entre os grupos políticos, está relacionada à necessidade deles zelarem pela liberdade de manifestação política. Ou seja, a existência livre dos partidos políticos.
  2. A possibilidade de haver meios para a denúncia, com a acusação e a defesa pública , que possa garantir um julgamento justo.
  3. Enfim, que tudo isso possa garantir a durabilidade das instituições.

Não é tarefa fácil entender o pensamento político de Maquiavel. O que faz com que não se compreenda Maquiavel, é que ele une o sentimento mais agudo da contingência ou do irracional no ser humano. Ele vê a história, onde há tantas desordens, tantas opressões, tantos imprevistos , injustiças e retrocessos, como algo que necessita de uma força e de um poder controlador.

SOLUÇÕES PARA O BRASIL

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Congresso Nacional em Brasília, Brasil. Representa o poder legislativo brasileiro.

Lembre-se, Maquiavel escreveu isso no começo do século XVI – 1513- é claro que hoje muita coisa mudou. Menos a corrupção. Porém, uma coisa é incontestável em Maquiavel, que é a conservação saudável do corpo político. Em outras palavras, o partido político não pode ser uma máquina corrupta. Daí, todo cuidado deve ter o homem quando ingressar nesse corpo político.

Entretanto, as ideias de Maquiavel podem não servir ao Brasil, cuja corrupção parece ser uma doença crônica ou em estágio bastante avançado no seu leito de morte. Nunca é tarde lembrar, que desde o “Descobrimento do Brasil”, esse assunto já é conhecido.

Segundo Maquiavel, a corrupção denota um estágio da vida em putrefação, onde o corpo político vai se corroendo por dentro, até destruir o todo saudável do tecido social.

Assim sendo, as soluções para o Brasil, se encontram no Regime Democrático, no Poder Judiciário, no Ministério Público Independente, nas Instituições Públicas, na Educação em todos os níveis, na sociedade em geral, mas, principalmente, no conceito ético que todos devem ter para a convivência política.

Quer dizer, a Política não é feita para os políticos satisfazerem seus interesses pessoais, mas sim para zelar pela coisa pública.

VAMOS ACABAR COM A CORRUPÇÃO

Nenhum homem sozinho acabará com a corrupção. Não existe herói nacional ou salvador da pátria para extirpar esse mal antigo da política. Quando um político vai a público dizer que vai acabar com a corrupção, ou está fazendo demagogia ou está se aproveitando de certas ocasiões. É melhor desconfiar.

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Estudantes e professores se mobilizam para defender recursos públicos para a Educação. Curitiba, 2019, Brasil.

A corrupção só pode ser banida pelo esforço coletivo, ou seja, a sociedade deve se organizar e condenar os corruptos. Entretanto, não apenas se proteger de um político desonesto, mas, também as próprias instituições políticas devem se proteger ao máximo  de contaminar-se pela corrupção.

Só venceremos a corrupção quando a sociedade tomar consciência da existência de corruptos e corruptores, produtores da roubalheira da coisa pública.

Porém, a corrupção não é um mal exclusivo de péssimos políticos. Quando, por exemplo, não se dá importância para as pessoas nas relações humanas nos mais simples gestos, como ceder lugar no ônibus, ocupar vaga do idoso e do deficiente no estacionamento, furar a fila, avançar sinal de trânsito, além de outros, são atitudes que compõem o conceito amplo de corrupção.


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A história do Sultão Saladino e a Terceira Cruzada

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Saladin_green_dashinvaineSeu nome verdadeiro era, Salãh ad – Din Yussuf ibn Ayyub, nascido em Tikrit, no atual Iraque em 1138 e falecido na Síria em 1193. Conhecido como Saladino. Em 1176 tornou-se  Sultão do Egito e da Síria, ao obter esse cargo do Califa de Bagdá, Al Mustadi Anácer, da dinastia Abássida.

Saladino, General curdo adepto do islamismo Sunita, tornou-se célebre, entre os cristãos de sua época, por sua conduta conciliadora, tornando-se respeitado pelos cruzados, inclusive, pelo Rei Ricardo I, da Inglaterra  que também se tornou famoso pelo apelido de “Ricardo Coração de Leão”

Sua bravura espalhou-se pela Europa e pelo Oriente Médio, como um célebre exemplo da cavalaria medieval.

De sua linhagem familiar nasceu a dinastia Ayyubida, que prosperou no Sultanato do Egito e da Síria.

AS CRUZADAS

No dia 28 de Novembro do ano de 1095, no Concílio de Clermont na França, o Papa Urbano II, prega aos fiéis as Cruzadas para libertar Jerusalém, que estava em poder dos turcos seldjúcidas, adeptos da religião fundada pelo Profeta Maomé.

A Síria e a Palestina e grande extensão do Oriente Médio Próximo, estavam nas mãos dos turcos desde 1071. Entretanto, os lugares sagrados dos cristãos eram visitados com regularidade por peregrinos ocidentais.

O Santo Sepulcro cristão atraía milhares de peregrinos. Sob o controle dos turcos islâmicos, mantinham-se abertos os albergues dos visitantes cristãos que pagavam tributos aos turcos. Mesmo assim, havia desconfiança e reclamações de maus tratos.

A IGREJA CATÓLICA E AS CRUZADAS

O Papa Urbano II, dizia que a recompensa para quem lutasse nas cruzadas, seria a salvação da alma, e de que todos seriam absolvidos de seus pecados. Os Cavaleiros e os Nobres viram nisso um meio para acumular riquezas, terras e poder.

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Papa Urbano II convoca a Primeira Cruzada. 1095.

Desse modo, a aventura dos cruzados para conquistar Jerusalém, combinava estratégia e esperança para a salvação eterna, mesclado com cobiça e fortuna, risco e remissão dos pecados.

Os efeitos da pregação de Urbano II repercutiu positivamente entre a nobreza feudal de forma avassaladora.

De um lado, os cristãos, e do outro, os islâmicos. Começaria então por longos quatro séculos, as expedições militares com destino à Terra Santa, com a finalidade de reconquistar dos islâmicos os lugares sagrados dos cristãos.

No final das contas, tanto esforço empregado nas cruzadas, não alcançou seus objetivos. Ressultou que,os povos do Oriente é que acabaram oferecendo novos rumos aos ocidentais. As influências da civilização árabe sobre a ocidental acabou se consolidando com as cruzadas.

Para o mundo árabe, as cruzadas não exerceram mudanças de nenhum aspecto, exceto para aumentar as diferenças entre cristãos e muçulmanos.

O ENFRAQUECIMENTO DOS CALIFAS

Os ataques dos primeiros cruzados aconteceram, num momento em que os Califas de Bagdá não tinham condições políticas de liderar uma força para enfrentar os cristãos ocidentais. Havia divergência e muita disputa pelo poder. Então, foi nesse ambiente frágil da soberania do Califado, que aparece a figura do Sultão Saladino.

JERUSALÉM

 Jerusalém era um reino cristão na Palestina. No ano de 1185 o Rei Balduíno IV, morre acometido de lepra ( hanseníase), o trono passa para seu cunhado Guy de Luisignam (francês), que era casado com Sibila, irmã de Balduíno IV.

Enfraquecidos por lutas internas e ataques de muçulmanos, durante os 25 anos após a Segunda Cruzada (1147 a 1149), o reino cristão de Jerusalém, não teve forças para conter o avanço muçulmano na região, tendo desta vez à sua testa, a figura de um grande líder islâmico, o curdo Saladino, Sultão do Egito e da Síria.

A ASCENSÃO DE SALADINO

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Saladin. Cristofano dell’Altissimo (1525-1605)

O Sultão surge num momento em que, o reino cristão de Jerusalém perdia seus vassalos  à medida em que a lepra consumia a saúde do rei Balduíno IV. Saladino preparou seu exército, mas teve paciência de esperar o momento certo para conquistar Jerusalém.

Após a morte de Nur-al-Addin (Noradine) em 1174, Saladino consolidou seu poder na Síria. Entrou em Damasco e foi bem recebido pela população. Enquanto se fortalecia, deixava o reino cristão em paz. Por duas vezes, entre 1170 e 1172, esteve perto de atacar de Jerusalém. Por algumas vezes, impôs derrotas aos exércitos cruzados .

Entretanto, na Batalha de Montgisard ocorrido no dia 25 de Novembro de 1177, foi derrotado pelos exércitos reunidos do Rei Balduíno IV de Jerusalém, Reinaldo de Chântllon e os Cavaleiros Templários. Fazendo com que, retornasse ao Egito para se fortalecer.

REINALDO DE CHÂNTILLON

Saladino e os reinos cristãos na Palestina, fizeram uma trégua em 1178. No ano sequinte, as forças cristãs são derrotadas na Batalha do Vau de Jacó. Os cristãos contra atacam Saladino, com os Templários de Reinaldo de Chântillon, atacando as rotas de comércio marítimo no mar vermelho, pilhando portos muçulmanos e peregrinos em caravanas.

Saladino mandou construir 30 navios para atacar Beirute. Reinaldo de Chântillon ameaçou atacar Meca e Medina(A Cidade do Profeta). Em resposta Saladino cercou a fortaleza de Al Karak em 1183, que estava em poder de Reinaldo.

Reinaldo de Chântillon, respondeu atacando e saqueando uma caravana de peregrinos muçulmanos que viajava entre o Cairo e Damasco, quebrando a trégua que existia entre Saladino e o Rei Balduíno IV de Jerusalém.

No ano sequinte, Saladino mando uma guarda para escoltar sua irmã e o filho dela, que voltavam de uma peregrinação a Meca, na Arábia. Alguns historiadores, relataram que nessa caravana estava a irmã de Saladino, e que ela foi sequestrada  por Reinaldo de Chântillon. Porém, esses fatos não são confirmados pelos árabes.

SALADINO UNIFICA OS MUÇULMANOS

A ameaça de Reinaldo de atacar os lugares sagrados da religião islâmica,Meca e Medina(A Cidade do Profeta)  teve como consequência imediata, a união de forças do mundo muçulmano.

O Rei Guy (Guido) de Luisignam de Jerusalém,  chegou a desautorizar Reinaldo de fazer ataques contra muçulmanos, na tentativa de conter o avanço de  Saladino,que já era visto como certo. Porém, Reinaldo respondeu que,”Era senhor de suas terras e que não fazia acordo de paz com muçulmanos”. Por seu lado, o Sultão fez um juramento fatal contra Reinaldo. A sorte estava lançada.

QUEM ERA REINALDO DE CHÂNTILLON

Foi um cavaleiro francês, originário de Chântillon-Sur-Marne, da Província de Champagne. Serviu na Segunda Cruzada ( 1147-1149) e permaneceu no Oriente, tornando-se Príncipe de Antióquia (reino cristão) na Turquia.

Era um mercenário a serviço de quem lhe pagasse mais. Em 1155, acusou o Imperador Manuel I de Bizâncio ( Constantinopla) na Turquia de lhe dever grande soma em dinheiro, pelos seus serviços militares contra o Príncipe Teodoro II da Armênia. Para sufocar mais a cobrança, ameaçou atacar a Ilha de Chipre, que na época pertencia ao Império Bizantino.

Em Antióquia (reino cristão), prendeu e torturou o Patriarca (líder religioso) Amarilco de Limoges. Despido e com suas feridas cobertas com mel, foi colocado na entrada da cidade até sofrer à exaustão. Com isso, conseguiu dinheiro para financiar sua expedição militar contra os próprios Bizantinos.

Aliou-se depois ao seu ex-inimigo Teodoro II da Armênia, que queria vingar-se dos Bizantinos. Assim, Reinaldo e Teodoro II, derrotaram os Bizantinos da Ilha de Chipre.

Sua vitória foi marcada pelo terror aos cipriotas. Os campos agrícolas foram incendiados, soldados mortos, igrejas, palácios e conventos pilhados e incendiados, mulheres estupradas, velhos e crianças degoladas, os homens ricos foram presos para pagarem resgates.

Para completar a sua maldade, antes de sair de Chipre levando tudo o que podia. Reinaldo mandou reunir todos os padres e monges gregos, ordenando que cortassem os narizes deles e enviassem ao Patriarca de Bizâncio (Constantinopla).

Em 26 de Novembro de 1160, cinco anos depois do massacre da Ilha de Chipre, Reinaldo de Chântillon foi capturado pelos muçulmanos, quando  atacava e pilhava os sírios e armênios. Ficou aprisionado por Nur-al-ad-Din (Noradine), por 16 anos  em Aleppo na Siria.

Uns dizem que foi libertado numa troca de prisioneiros. Outros, dizem que foi solto mediante um grande resgate. Mas, não se sabe o certo.

Entretanto, a história que ainda estava para ser contada, não perdoaria o destino que estava reservado para Reinaldo de Chântillon.

O terror de Reinaldo, causou indignação no mundo daquela da época. Rapidamente sua fama se espalhou, tornando-se odiado pelos muçulmanos de Allepo na Síria e pelos cristãos.

Foi libertado em 1176, por As-Salih-Ismail- Al-Malik, filho de Noradine.Uns dizem que foi trocado por prisioneiros. Outros dizem que pagou um bom resgate. Mas, a história que ainda estava para ser contada, não perdoaria o destino que esta reservado para Reinaldo de Chântillon.

A ESTRATÉGIA MILITAR DO SULTÃO

A  promessa de Reinaldo de Chântillon de invadir Meca e Medina, santuários islâmicos, uniu as potências muçulmanas em torno de Saladino, numa jihad, ou guerra santa, contra os infiéis. Saladino e suas tropas de coalisão,se concentraram nos entornos das montanhas de Hattin ao norte da Palestina.Para fazer um reconhecimento do que ía enfrentar, o Sultão mandou uma força composta por 7.000  cavaleiros, sob salvo conduto.

Em resposta, as tropas cristãs, formadas por Templários e Hospitalários( Ordens religiosas militares) atacam a expedição. Entretanto, a força expedicionária de Saladino esmagou os cristãos. Com isso, estava declarada a guerra.

A BATALHA DE HATTIN

Os sobreviventes do exército cristão, convenceram o Rei Guy (Guido) de Lusignam,herdeiro do trono de Jerusalém, que deveria atacar Saladino para vingar a derrota.Persuadido por seus aliados, deixou as muralhas de Jerusalém e marchou para combater o exército de Saladino.As tropas dos cristãos eram compostas pelos exércitos de Guido de Lusignam, do Rei Raimundo III de Trípoli , e dos Templários sob o comando de Reinaldo de Chântillon.

O DIA 4 DE JULHO 1187

As tropas cristãs eram numerosas e bem preparadas. Mas o exército de Saladino era acostumado na luta e nas agruras do deserto. Além de conhecedor de cada palmo de terra da Palestina. Estrategicamente, Saladino posicionou suas tropas nas proximidades das montanhas de Hattin e esperou o inimigo cair numa armadilha. E caiu mesmo.

Ao amanhecer do dia 4 de Julho do ano de 1187, foi travada a Batalha que definiu os rumos da história entre muçulmanos e cristãos.

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A batalha de Hattin

O Sultão encurralou as tropas cristãs contra as montanhas, conhecidas como (Chifres de Hattin). Cortou as linhas de suprimentos e aniquilou as tropas inimigas. Sem água para beber e sem forças para reagir, os cristãos se renderam ao Sultão.

A  Batalha de Hattin, foi um desastre completo para os cruzados e uma reviravolta na história das Cruzadas.Era grande a quantidade de prisioneiros, dentre os quais o Rei Guy (Guido) de Lusignam e Reinaldo de Chântillon.

Guido e Reinaldo, derrotados e com sede, foram conduzidos a presença do Sultão, ocasião em que o Rei Guido depõe as armas aos pés de Saladino.

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Os cruzados se rendem perante o Sultão Saladino

Segundo o cronista árabe, Imad-ad –Din-al-Isfahani: “O Sultão Saladino convidou o Rei (Guido) a sentar-se ao seu lado, e quando Arnat(Reinaldo) por  sua vez entrou, sentou-se  ao lado de seu Rei(Guido). E foi então, que  o Sultão lembrou-o de suas más ações. “Quantas vezes vós fizestes uma promessa e a violaste? Quantas vezes assinastes acordos que nunca respeitastes?” Reinaldo respondeu através de um tradutor. “os reis sempre agiram assim,eu não fiz nada mais”.

Durante isto o Rei Guido, com bastante sede tremia de medo. Saladino disse-lhe palavras tranquilizadoras e mandou trazer água, que lhe ofereceu. O rei bebeu, depois passou o restante para Reinaldo, que então saciou sua sede.Saladino então disse a Guido.”Não pedistes permissão antes de dardes água. Deste modo, não sou obrigado a conceder-lhe misericórdia”.

Depois de dizer isso, o Sultão montou no seu cavalo e deixou os prisioneiros apavorados. Supervisionou o regresso das tropas e depois se recolheu à sua tenda ordenou que lhe trouxessem Reinaldo de Chântillon, então de espada em punho decepou-lhe a cabeça. Mandou levar o corpo até o Rei Guido que começou a tremer. Daí Saladino falou a Guido: “Este homem só foi morto por causa de sua maleficência e perfídia.”

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A morte de Reinaldo de Châtillon

Saladino tinha o costume de conceder misericórdia aos vencidos. Mas desta vez, todos os prisioneiros das ordens militares foram decapitados pelos Sufis, equivalentes muçulmanos

aos Templários. Foram poupados os hospitalários. Enquanto que para Guido de Lousignam, o Sultão poupou sua vida, sendo conduzido a Damasco, onde ficou preso por  algum tempo, até ser libertado.

SALADINO CHEGA EM JERUSALÉM.

Após a batalha de Hattin, Saladino já havia tomado quase todos os reinos cristãos na Palestina.

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E no dia 2 de Outubro de 1187, após um cerco ele entrou em Jerusalém.

A resistência da cidade ficou a cargo de Balian de Ibelin (Balião).Que ameaçou matar todos os muçulmanos da cidade, estimado em três e cinco mil pessoas, além de incendiar Jerusalém e destruir a Mesquita de Al-Aqsa e a Cúpula da Rocha, templos sagrados dos muçulmanos.

Inicialmente, Saladino não queria ceder, mas ao ouvir seus Conselheiros, aceitou libertar os cruzados que ainda restavam em Jerusalém. Embora tenha estipulado um resgate, não mais exigiu pagamento para quase  oito mil pessoas.

Ao contrário do massacre dos cristãos  aos habitantes muçulmanos durante a Primeira Cruzada(1096-1099). O Sultão Saladino concedeu liberdade aos cristãos civis. Mandou colocar guardas nos locais de adoração cristã, principalmente no Santo Sepulcro.

Mandou restaurar e lavar as paredes com água de rosas, e tornou a Mesquita de Al-Aqsa (Mesquita de Omar), novamente um Templo da religião Islâmica

A TERCEIRA CRUZADA

Em 1187 ao saber da  vitória  e da conquista de Jerusalém pelo Sultão Saladino, o Papa Gregório VIII conclamou a Terceira Cruzada na Dieta de Worms em 1188..

A Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, foi uma resposta da cristandade européia a queda de Jerusalém pelo líder muçulmano Saladino.Os comandantes da Terceira Cruzada foram os Reis, Ricardo I, da Inglaterra, Felipe Augusto, da França, e Frederico Barbaroxa do Sacro Império Românico e Germânico.

Atendendo ao chamado do Papa Gregório  VIII, colocaram-se como protetores da chamada “ Cruzada dos Reis”. Os europeus, criaram para financiar a cruzada, o chamado “Dízimo de Saladino”, cobrado dos cristãos.

FREDERICO BARBA RUIVA

O Imperador Frederico I, apelidado de “Barba ruiva” ou “Barba roxa”, foi o primeiro a partir à frente de um grande exército.Viajando por terra, chegou com facilidade ao território onde hoje é a Turquia.

A MORTE FREDERICO “Barba Ruiva”

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Frederico Barba Ruiva

No dia 10 de junho de 1189, o poderoso exército de Frederico I, preparava-se para transpor o Rio Calicadno (hoje Goksu) para entrar na cidade Selêucia na Turquia. O Imperador seguia na frente com sua guarda pessoal, quando ao atravessar o Rio Calicadno morreu afogado.

Não se sabe ao certo, o que teria acontecido. Especula-se que ele tenha caído do cavalo e não tenha conseguido se levantar por conta do peso da sua armadura.É possível também que seu cavalo tenha entrado em uma parte funda do rio e o Rei tenha se afogado.

O certo é que quando seu exército chegou, o seu corpo já estava resgatado e estendido na margem do rio.

A morte do grande Imperdor foi um duro golpe para os interesses dos cruzados. As tropas de “Barba roxa” se dispersaram. Apenas o Duque de Suábia, filho do Imperador prosseguiu a viagem à Terra Santa.

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A morte de Frederico Barba Ruiva

Entretanto, o próprio Duque adoeceu e permaneceu na cidade de Sicília. Seu exército prosseguiu, sofrendo ataques com grandes perdas. Chegaram a Antióquia no dia 21 de junho de 1189, com um pequeno exército.

 

A CHEGADA DE FRANCESES E INGLESES

Os franceses e ingleses chegaram por via marítima em 1191. Sob o comando do Rei Felipe Augusto os franceses  chegaram  e cercaram a  cidade de Acre na (Galiléia). As forças dos ingleses do Rei Ricardo I, conhecido como “Ricardo Coração de Leão”, desembarcaram dois meses depois e conquistaram a Ilha de Chipre. Logo em sequida se juntaram aos franceses na conquista de Acre.

O CERCO DE ACRE

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A rendição de Acre ao Rei Felipe Augusto da França

O Rei Guido de Lusignam, que havia sido libertado pelo Sultão Saladino, reuniu o que restou de suas tropas e iniciou um cerco a cidade portuária de Acre no dia 28 de Agosto de 1189.Em seguida grandes contingentes de cruzados europeus chegaram para contribuir no cerco de Acre, que a partir daí ficou bloqueada por terra.

Ante a poderosa máquina de guerra de Felipe Augusto e de Ricardo I, os muçulmanos foram derrotados e Acre conquistada, no dia 12 de julho de 1191.

RICARDO I CORAÇÃO DE LEÃO

5833684493Ricardo I, chegou a cidade de Acre com seu exército, dois meses depois da queda de Jerusalém para Saladino. Embora vitoriosos, a conquista de Acre foi penosa  e umas das mais violentas das cruzadas.

Ricardo I, ficou conhecido na história como (Ricardo Coração de Leão). Muito embora tenha mandado executar milhares de muçulmanos, incluindo mulheres e crianças, a começar pela tomada de Acre.

Como demorou dois meses para chegar à Palestina, deu tempo suficiente para Saladino reforçar suas defesas em Jerusalém.Com isso, o Sultão manteve-se seguro, além de deixar aberta sua estrada para o Egito. E para impedir o avanço de Ricardo I, demoliu a próspera cidade de Ascalão. Desse modo, Ricardo I se contentou em conquistar a cidade de Java (atual Tel-Aviv), onde seus soldados gostaram e aproveitaram a vida confortável, com fartura de alimentos, frutas frescas e navios trazendo víveres em abundância. Além de prostitutas da cidade de Acre.

As tropas do Sultão mantiveram-se à distância, enquanto reinava a paz velada. Parecendo uma guerra fria.

MOTIM E REVOLTA

Entretanto, nem tudo era paz e tranquilidade em Java. O exército de Ricardo I foi tomado pela indisciplina. Muitos soldados desertaram para a cidade de Acre. A indolência tomava conta dos amotinados. Ricardo I começava a se fragilizar.

Para convencer seus soldados retornarem de Acre,mandou o Rei Guido de Lusignam.  Não deu certo. Ricardo teve que ir pessoalmente trazer seus soldados.  A situação política de Ricardo estremeceu quando os cristãos de Chipre se rebelaram. Sendo preciso vender a Ilha para os Templários. Por outro lado, o Rei Ricardo I desconfiava do retorno de Felipe Augusto à França, pois percebia que ele poderia retomar as desavenças entre França e Inglaterra.

RICARDO CORACÃO DE LEÃO X SULTÃO SALADINO

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Ricardo Coração de Leão

Esse duelo nunca aconteceu. Apesar da literatura da época tê-los retratado num combate imaginário. Na verdade, aconteceu um combate, na batalha de Arsuf ,no dia 7 de Setembro de 1191, onde as forças de Saladino perderam.

Nesse confronto, talvez o único entre Ricardo e Saladino, ocorreu um fato curioso. Saladino não estava pessoalmente no combate. Somente estava o Rei Ricardo I, que foi atingido na peleja.

Ao saber que o Rei Ricardo I estava ferido, o Sultão ofereceu seu médico particular para tratar dos ferimentos de Ricardo. Nessa mesma batalha, Ricardo perdeu seu cavalo pessoal. Saladino mandou-lhe dois cavalos árabes. Mandou também alimentos e frutas.

A relação entre Saladino e Ricardo era de respeito mútuo, assim como também se respeitavam na rivalidade militar.

Ambos celebrados em romances cortesãos ocasionaram um gesto inesperado, O Rei Ricardo I chegou a sugerir que sua irmã, poderia casar com o irmão de Saladino. Al-Adil, mas não se sabe se houve casamento.

O GRANDE ACORDO DE PAZ

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O duelo imaginário entre Saladino e Ricardo

Ricardo I e Saladino foram guerreiros na mesma altura. Mesmo sendo inimigos trocavam presentes e honrarias. O Rei Ricardo propôs então começar  as negociações com Saladino que por sua vez respondeu ao Rei Ricardo, mandando seu irmão Al- Adil como embaixador. Começava, assim, naqueles distantes tempos a diplomacia.

 

O TRATADO DE RAMLA ( O primeiro entre  europeus e árabes)

Em 1192, esse Tratado definia a paz entre os Cristãos de Ricardo e os muçulmanos de Saladino. O acordo fazia concessões aos cristãos e reconhecia  o poder do Sultão e a soberania sobre Jerusalém.

Para os europeus o Tratado previa a autoridade sobre os territórios que haviam conquistado na Palestina. Os cristãos poderiam fazer a peregrinação a Terra Santa de Jerusalém, desde que desarmados. Isso, é o que hoje poderíamos chamar de “Coexistência Pacífica”.

Desse modo, mesmo não tendo conseguido dominar Jerusalém, a Terceira Cruzada assegurou a presença dos cristãos europeus no Oriente Médio. Esse Tratado,bem que poderia ser lembrado pelo Mundo conturbado em que vivemos atualmente.

O RETORNO DE RICARDO I A INGLATERRA

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Ricardo Retorna á Inglaterra

Selada a paz, o Rei Ricardo deixa a Palestina e embarca com destino à sua terra. A viagem foi acidentada. Seu navio naufragou e ele foi feito prisioneiro por piratas do Mediterrâneo. Libertado mediante resgate, chegou a Inglaterra que passava por crises políticas.

Ricardo para salvar seu trono, teve que combater seu próprio irmão e o Rei da França Felipe Augusto.Porém,  Na batalha de Châlus, no ano de 1199, atingido por uma flecha, morre aos 42 anos de idade o Rei Ricardo I .

A MORTE DO SULTÃO SALADINO

Considerado o vencedor da Terceira Cruzada, Saladino se tornou herói de um ciclo de lendas e histórias  medievais, que percorreram a Europa e o  Oriente Médio. Seus feitos e bravuras são lembrados e cultuados até hoje pelos povos muçulmanos.

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O Mausoléu de Saladino em Damasco na Síria.

Grande protetor da cultura islâmica, além de admirável militar, foi um excelente homem público, ordenou a construção da cidade do Cairo, além de outros monumentos de importância para a cultura Islâmica.

O Sultão Saladino, faleceu de morte natural no dia 4 de Março do ano de 1193, aos 55 anos de idade, em Damasco na Síria.

A HERANÇA DO SULTÃO

Não há fontes seguras, mas quando foi aberto o tesouro de Saladino, não  havia dinheiro bastante para custear seu funeral, condicente com a sua importância. Vez que ele havia doado a sua fortuna aos pobres.

História parecida, conta um dos companheiros do Profeta Maomé, por nome de Amr Ibn Al Harret: “Que, quando o Profeta morreu, ele não deixou nem dinheiro e nem qualquer outra coisa, exceto sua mula branca, sua arma, e seu pedaço de terra que deixou como caridade”.


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O Profeta Maomé

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Criador da religião com mais adeptos no mundo, O ISLAMISMO, com 20% da população mundial.

“Quem matar um ser humano […] terá matado a humanidade inteira. Quem salvar uma vida humana terá salvado a humanidade inteira

Alcorão- Quinta Surata, Versículo 32.

É com esse versículo de Alcorão, que iremos falar um pouco do Profeta Maomé. Nascido em Meca na Arábia Saudita no ano 570 d.C. a cidade já era sagrada quando nasceu Maomé. Naquele tempo já recebia peregrinos de toda península arábica.

Tudo por causa de um meteorito – a Pedra Negra – que caiu nas cercanias de Meca e acabou virando objeto de culto. Não se sabe em que época, os árabes passaram a adorar a Caaba – o Cubo – que continha 360 deuses em forma de estatuetas. Um para cada dia do ano, pois o calendário deles tinha 360 dias.

O ritual era dar 7 voltas em redor da Caaba. Os deuses eram planetários, assim a Lua era Hubal, uma divindade que ajudava os homens a prever o futuro. Vênus era Uzza, a deusa do amor, além de outros. Acima de todos tinha um deus que não tinha nome, era chamado apenas de: al- llah que depois virou Allah.

A forte presença judaica na Arábia implicou no conhecimento religioso dos judeus que haviam escrito a Bíblia há mil anos antes. Os árabes acreditavam também que eram descendentes de Abraão, o patriarca que falava com Deus. A diferença é que, enquanto os judeus eram descendentes de Isaac, os árabes viriam do filho primogênito de Abraão, Ismael cuja mãe era uma egípcia escrava da família, chamada de Agar.

Realmente, fazia sentido, a própria Bíblia relata que Ismael foi morar nas terras da Arábia. Eles conheciam, portanto, o deus Javé dos judeus. Só que eles pensavam que Javé era o marido da deusa do amor, Uzza. Isso cabia na mente deles, assim como o típico brasileiro acredita no sincretismo religioso, que mistura catolicismo com umbanda. Havia também quem fosse à Caaba reverenciar Jesus Cristo. Na verdade, Meca eram um caldeirão de crenças. E foi nesse ambiente religioso que nasceu Maomé, filho de Abdallah com a senhora Amina.

Segundo diz uma lenda árabe, o pai de Maomé foi abordado por uma mulher desconhecida que o convidou para irem se conhecer. Seu Abdallah recusou o convite, pois naquele dia seria a noite de núpcias da Abdallah e Amina, onde foi concebido o embrião de Maomé. Porém, no dia seguinte Seu Abdallah procurou à estranha e perguntou se o convite ainda estava de pé. Não estava.

Teria então dito a estranha para Abdallah: “Ontem você tinha um brilho nos olhos, e hoje não tem mais”. Não quero. O tal brilho era uma figura de linguagem, pois segundo a tradição islâmica, o brilho era uma manifestação da semente do Profeta Maomé, que estava prestes a sair do pai para o útero da mãe.

Esse episódio da literatura islâmica, por ser lendária pode ser comparada a história dos Reis Magos, da Estrela de Belém, da literatura cristã do nascimento de Jesus Cristo. Com ou sem brilho nos olhos, o fato é que Abdallah e Amina foram mesmo os pais de Maomé. Mas não por muito tempo.

O DESTINO DE MAOMÉ

Seu Abdallah não viu o filho nascer. Morreu enquanto Dona Amina estava grávida. A vida do casal era difícil. Os bens de Abdallah eram cinco camelos e uma dezena de ovelhas. O que considerava ser de família pobre. Dona Amina agora viúva, teria que se desdobrar para dar boas condições de vida ao menino. Mas, ela foi forte, criou o filho sem problemas e conseguiu com uma família de beduínos, que o menino aprendesse as dificuldades do deserto.

Mas Dona Amina não teve tempo para criar o filho. Morreu antes de ele completar 7 anos. Então, o pequeno Maomé ficou órfão de pai e mãe. Sendo acolhido por seu avô Abdul-Mutalib. E o avó também morreu. O menino agora com 8 anos só teria um caminho, virar escravo. Esse era o caminho para os órfãos daquela época. Ou seja, iria trabalhar em troca de alimento pelo resto da vida.

Entretanto, Maomé teve sorte e escapou dessa sina graças ao seu tio, Abu-Talib, que era irmão do seu falecido pai: Abdullah. Adotado por seu tio Abu-Talib, Maomé ganhou uma família.

Abu- Talib era um xeique, ou seja, era um chefe de clã e muito rico. Era exportador, dono de caravanas de camelos que transportava alimentos, especiarias e objetos preciosos pelo deserto. Mesmo ainda criança, Maomé começou a participar dessas viagens. Dai passou a conhecer muitas cidades e comunidades cristãs e judaicas.

Em Meca, o poder político administrativo e judicial era dominada pela mega tribo dos Coraixitas (quraysh). Eles controlavam o comércio e as finanças de Meca. Os peregrinos da Caaba era uma fone de renda, propiciando feiras e mercados em volta do santuário. Porém, quem quisesse abrir seu pequeno comércio na festa, teria que pagar impostos para os líderes dos Coraixitas.

Cobravam juros extorsivos. Quem não pagava virava escravo. É que na hora de pedir o empréstimo, um filho em condição de trabalhar era dado em garantia. Se não pagasse, o credor ganhava um escravo.

Foi nesse cenário que Maomé cresceu, passando a trabalhar com seu tio Abu-Talib nas caravanas de camelos, propiciando a ele conhecer muitos povos cristãos e judeus. Esse fato ajudou muito depois, quando então ele criou a grande terceira religião monoteísta do mundo.

O CASAMENTO COM KHADIJA

Talvez Maomé não tivesse sido o criador do islamismo, se não tivesse conhecido a mulher que mudou a sua vida. Khadija. Ele estava com 25 anos de idade, quando foi contratado pela rica e viúva Khadija, 15 anos mais velha que ele.

Khadija era uma mulher emancipada, dona de caravanas muito lucrativas e muito cobiçada a cidade. Ela precisava de uma pessoa do ramo para chefiar uma caravana para a Síria, distante mais de mil quilômetros de Meca. Falava-se muito bem na cidade do jovem Maomé já bem experiente nesse empreendimento.

Khadija mandou convidar o rapaz. Deu certo. Maomé voltou da Síria com o dobro dos lucros que ela esperava. Daí veio o fundamental da história. A rica empreendedora pediu Maomé em casamento. Claro, ele não pensou duas vezes e casou-se com ela.

Após o casamento, Maomé ganhou status na sociedade, como um próspero comerciante, reverenciado até pela elite Coraixita. Nessa época, seu melhor amigo, passou o ser o próspero comerciante Abu Bakr, da tribo dos Coraixitas. Os líderes da cidade fizeram uma reforma na Caaba e Maomé teve a honra e recolocar a Pedra Negra, fato que lhe trouxe prestígio e poder.

Entretanto, a confortável situação econômica que passou a ter, confrontava com seu pensamento que já prenunciava o que estava por vir. Ele não aceitava as condições que os Coraixitas impunham a população. Inclusive por ver tanta gente se tornando escrava por não poder pagar dívidas. Maomé passou a viver entre dois mundos. Ou seja, a da exploração dos Coraixitas e o seu modo democrático de ver as coisas.

A GRANDE REVELAÇÃO

O nome verdadeiro é Muhammad. Maomé é em português.

Nesse ambiente contraditório em que vivia e com o qual discordava, levou Maomé a se afastar da cidade sempre que podia, se isolando numa caverna do Monte Hira, nas proximidades de Meca, para fazer suas orações e meditar sobre tudo que via e não concordava.

E foi nesses retiros espirituais, quando Maomé tinha 40 anos, que teve a maior surpresa e sua vida. Sentado na caverna ouviu uma voz, que lhe surgiu à cabeça, que dizia:

Recita! Recita! Então Maomé recitou, mesmo não entendendo bem o que era aquilo. Entrou numa espécie de transe e as palavras foram saindo. “Recita, em nome do seu Senhor que criou/ Criou a humanidade a partir do coágulo de sangue/ Recita que seu Senhor é generoso/ Aquele que ensinou pela escrita/ Ensinou a humanidade o que ela não sabia”.

Era o Anjo Gabriel que revelava ao Profeta os fundamentos da nova religião em 610 d.C., e continuaria as profecias durante 23 anos. Depois da primeira aparição do Anjo Gabriel, Maomé voltou para casa e contou para Khadija o que havia acontecido. Estava meio atordoado pensando que estava delirando. Os versos do Alcorão são em formas de rimas.

Khadija tinha um primo que era cristão, com quem resolveu se consultar sobre aquela estranha voz que veio a Maomé. O primo de Khadija disse que Maomé tinha falado com Deus e recebidos os primeiros versos do Alcorão, pela voz do Anjo Gabriel – Jibril na tradição islâmica.

Maomé ficou relutante com aquilo, preferindo guardar as profecias para si mesmo e para sua família e alguns poucos amigos. Mas, dois anos depois em 612, o Anjo apareceu outras vezes, ditando-lhe os versículos do futuro Alcorão. Daí Maomé seus familiares e amigos levaram isso muito a sério e passaram a escrever tudo o que recitava o Profeta.

A NOVA RELIGIÃO FLORESCE

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A Cúpula da Rocha é um dos nomes atribuídos à Mesquita de Omar, situada na Cidade Velha, em Jerusalém. Segundo historiadores, sob as fundações da mesquita existe uma “rocha sagrada”, que fica exatamente sob a cúpula da mesquita. Foi construída entre 685 a 691. Omar ibn al-Khattab, o segundo califa e o primeiro da dinastia Omíada.

Então, aquele Maomé resignado, que tentava equilibrar a consciência fazendo doações aos pobres e isolando-se nas montanhas, desapareceu ante a nova realidade. Resolveu questionar a classe dominante de Meca e sua política cruel, encarou os Coraixitas e passou a criticar a cobrança extorsiva de juros, a escravidão e a heresia, pedindo a liberdade dos escravos e o fim do autoritarismo.

Mesmo com esse discurso considerado revolucionário para os padrões da época, Maomé ganhou adeptos entre os homens ricos de Meca. Certamente pela beleza das recitações que recebia do Anjo. Muitos o viam como um novo Abraão, um novo Moisés. A começar pelo seu amigo e sogro Abu Bakr, que gastou uma fortuna comprando escravos por dívidas para libertá-los.

A mensagem monoteísta de Maomé começou a preocupar os Coraixitas. Ora, aquele rapaz se continuasse convencendo os peregrinos da Caaba de que os 360 deuses ali cultuados não teriam vida longa, isto refletiria no controle econômicos do santuário e os Coraixitas poderiam perder essa fonte de renda. A elite de Meca passou a engendrar planos para impedir o avanço das recitações Maomé.

Todavia, não seria fácil conter o pregador, cada vez mais ele ganhava adeptos. No começo, eram só Khadija, seu sogro Abu Bakr, Zayd, seu escravo por ele alforriado, e o menino Ali de 13 anos de idade, primo de Maomé. Agora com a grande aceitação, os seguidores eram centenas. Para facilitar mais, o seu tio Abu Talib, era amigo dos Coraixitas. Fato que ajudava a manter o pescoço de Maomé longe dos espaços.

Mas as dificuldades não tardaram para Maomé. No ano 620 d.C., quando o Profeta tinha 50 anos, morreu seu poderoso e protetor tio Abu Talib. Logo em seguida, sua esposa Khadija faleceu aos 65 anos. Então, sem essas duas principais referências na sua vida, Maomé tomou novos rumos para o crescimento do Islamismo.

O ANO HÉGIRA- 622 d.H (depois de Hégira, “fuga”, em árabe).

O episódio conhecido como Hégira se tornou tão importante para o islamismo, que o ano 622 ficaria marcado para sempre como o início do calendário muçulmano.

Ó, Profeta, combata aqueles que negam a verdade e os hipócritas e seja implacável com eles. O inferno será sua morada.”

Alcorão – 9 Surata, Versículo 42.

Mesmo com a fuga de Maomé as perseguições não pararam e diversos combates ficaram travados entre o exército Coraixitas e os seguidores da nova religião. Porém, o profeta não somente escapou da morte, mas em Yatreb fez a sua maior obra. Criou sua própria civilização. Maomé agora era xeique. Longe de Meca, seus seguidores formavam uma tribo, a “Ummah” (“comunidade”).

Foi nesse contexto que Maomé pôs em prática suas ideias. Os Coraixitas ficaram com o caminho livre para barrar os planos de Maomé e planejaram sua morte. Após a morte de Khadija, Maomé se casou com Aisha, uma mulher muito inteligente.

Muito preocupado com o destino de seus seguidores, o Profeta passou a se organizar para deixar Meca. Líderes da cidade de Medina tinham-no convidado para ser Harom – espécie de juiz – para julgar uma questão interna entre clãs. O Profeta organizava seus seguidores para se mudar para Medina, cerca de 300 km de Meca, sem barulho, para não chamar a atenção. Os Coraixitas perceberam a movimentação e decidiram agir, com medo de que o Profeta estivesse formando um exército.

A CILADA

Em setembro do ano de 622, os Coraixitas puseram em prática o plano do assassinato. Quando arrombaram em plena noite a casa do Profeta, os sicários tiveram uma surpresa, quem estava dormindo na cama era o seu primo Ali, um menino de 13 anos. Maomé tinha acabado de fugir para Yatreb-Medina – junto com seu sogro Abu Bakr. O menino Ali se juntou com eles em Yatreb logo depois.

Uma das medidas econômicas baixadas por Maomé, foi baixar a taxa de juros extorsivos. Aqui no Brasil seria a taxa Selic. Em seguida criou o empréstimo a juro zero para quem fosse da nova religião e pertencesse à Comunidade. Ou seja, criou o BNDES em Yatreb, que passou a chamar-se Medina, a cidade do Profeta.

Acontece que em Medina tinha outra Comunidade de origem judaica chamada de Banu-Qaynuca, onde ninguém podia vender nada sem pagar uma taxa à eles. Maomé resolveu criar uma feira de negócios, que não cobrava taxa nenhuma. Resumindo, faliu os judeus que cobravam juros extorsivos. Com isso, ele quebrou o monopólio do comércio e forçou a queda nos preços. Esse era o capitalismo de raiz para valer.

Mas nem tudo era um mar de rosas. As caravanas dos Coraixitas que passassem perto de Medina eram atacadas. Pilhavam as caravanas para abasteciam suas feiras.

Maomé foi o primeiro homem o mundo a criar o Bolsa Família. Então, todo membro de Ummah, deveria pagar um imposto de acordo com sua renda, o Zakat. A arrecadação era destinada – sem corrupção – aos mais pobres, que não podiam pagar nenhum imposto.

AS REFORMAS DE MAOMÉ

Além dessas reformas fiscais ocorreram outras reformas no campo jurídico e social. A principal lei continuava sendo “olho por olho, dente por dente.”. Maomé então, mudou profundamente essa lei, ou seja, “A retribuição por uma injúria é uma injúria igual”, diz o Alcorão. Mas daí veio a regulamentação da lei e dispôs que: “Aqueles que esqueceram a injúria e buscarem uma reconciliação serão recompensados por Deus”. Além disso, não existia fiéis na nova religião, mas pessoas iguais em direitos.

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A Mesquita Azul ou Mesquita do Sultão Ahmed é uma arquitetura turco-otomana de Istambul, Turquia. Foi construída entre 1609 e 1616.

Outra reforma importantíssima de Maomé foi em relação aos direitos das mulheres. Velho costume árabe, a poligamia era normal naquela sociedade. O próprio Maomé além de Khadija, teve outras mulheres e filhos. Porém, as mulheres não tinham direito a quase nada. E então elas passaram a ter direito de herança. Quer dizer, daí pra frente poderiam herdar propriedades, pela primeira vez na história do povo árabe. Ficou também proibido que os maridos ficassem com os dotes de casamento, pagos pelo pai da noiva no ato do casamento. Agora o dinheiro ficaria mantido no “banco” como uma poupança exclusiva da mulher, funcionando como uma espécie de seguro em caso de divórcio, que já existia.

Explico tudo isso: Se o Profeta Maomé voltasse à Terra, deveria ser convidado para dar palestras em faculdades sobre gestão pública. Seu pacote de reformas deu tão certo que os habitantes de Medina passaram a lhe apoiar. Era fácil, bastava crer que havia um só Deus e que Maomé era o seu Profeta e estar disposto a pagar o Zakat para os pobres.

Como deu certo, os seguidores de Maomé, passaram a ser conhecidos como “muçulmanos”. Ou seja, “Aqueles que se renderam a Deus”.

É, mas quem não tinham se rendido à Deus, eram os Coraixitas lá de Meca. Eles não se esqueciam de Maomé e queriam lhe matar a todo custo. A primeira batalha entre Coraixitas e Ummah (Comunidade), aconteceu em 624, dois anos depois do Ano Hégira (622). O pessoal de Meca infiltrou espiões em Medina e descobriram que atacariam uma caravana que vinha da Palestina para Meca.

Os Coraixitas mandaram um exército de 1.000 homens para o combate, Maomé chegou com 300. Seria o fim do Profeta. Não foi. Não se sabe ao certo, talvez por excesso de confiança, mas os 1.000 homens foram esmagados por Maomé.

Não obstante, o Profeta Maomé continuava recebendo a aparição do Anjo Gabriel – Jibril em árabe. O Alcorão cada vez mais se aperfeiçoava na recitação do Profeta. O caráter belicoso que contém o Alcorão, a exemplo da Bíblia, é mais e mais suave que do Velho Testamento. De qualquer modo, Maomé foi mais feliz quando derrotou na espada seus cruéis adversários.

O APOGEU DO PROFETA

Em 629, com os Coraixitas cansados de perdas humanas e o Profeta mais forte e organizado, chegou o grande dia. Com um exército de 10 mil homens Maomé marchou contra Meca. Seria uma carnificina a guerra. Nada disso. O Profeta Maomé conquistou a cidade sem derramar uma gota de sangue. O inimigo isolado e fraco, não ofereceu resistência e se rendeu.

Com Meca sob seu controle, Maomé agora era o homem mais poderoso da Arábia. Um destino que jamais se pensaria para um menino que ficou órfão de pai e mãe ainda criança. Seu primeiro ato foi libertar todos os escravos de Meca. O segundo foi acabar com aquele monte de deuses – 360 – da Caaba. Ficou apenas a Pedra Negra. Maomé mandou que venerassem as estátuas de Jesus Cristo e da Virgem Maria, que são os únicos a que constam do Alcorão e são representados por imagens dentro da Caaba.

Mas, o Profeta não se aproveitou da conquista politicamente. Quer dizer, não se converteu em “Rei de Meca”. Pelo contrário, Maomé voltou para Medina – a cidade do Profeta – e morreu em paz no ano de 632, deixando 7 filhos, sendo 3 homens e 4 mulheres, e uma nova nação, que hoje conta com 1,5 bilhão de seguidores em todo o mundo.

A SUCESSÃO DO PROFETA

Dez anos após o início do calendário muçulmano, marcado pelo Ano Hégira em 622, morre o Profeta em Medina, o líder que conseguiu unificar os povos árabes através da doutrina e da fé de uma nova religião monoteísta, não deixou claro, ou talvez tenha passado esquecido para seus patrícios, como seria o processo de sucessão para o próximo líder religioso o político dos Muçulmanos.

Enquanto alguns defendiam que deveria o sucessor ser algum membro da família do Profeta, outros defendiam que deveria ser o mais antigo, dentre os fundadores e companheiros de Maomé.

A SUCESSÃO E O NASCIMENTO DE XIITAS E SUNITAS

Os pretendentes à sucessão dividiam-se entre Ali ibn Abi Talib, de 30 anos de idade, genro e primo do Profeta. Ali era aquele menino de 13 anos que acompanhou Maomé na fuga de Meca para Medina em 622. Casado com Fátima, filha de Maomé com Khadija.

O outro era Abu- Bakr, seu sogro e mais antigo seguidor de Maomé, tinha 58 anos e tornou-se o primeiro Califa (Sucessor em árabe). O jovem Ali, primo do Profeta era o favorito de uma parte dos seguidores. E ainda é. O rompimento na sucessão criou uma dissidência em favor de Ali, conhecida com Xiita até o dia de hoje. São a minoria.

Os descendentes dos que apoiaram Abu Bakr, são a maioria da corrente “Sunita”, que seguem a Suna que é o livro biográfico de Maomé. Narra à tradição da religião criada pelo Profeta.

A MONTANHA E MAOMÉ

*      Se a montanha não vai até Maomé, vai Maomé à montanha.

Esse ditado é falado no mundo todo, mas não se sabe sua origem. Porém, conta-se que os árabes pediram ao Profeta a realização de um milagre. Assim, o Profeta ordenou que o Monte Safa viesse até ele. Como isso jamais aconteceria o Profeta agradeceu a Deus, pois assim os seguidores não foram esmagados pela montanha e terminou dizendo: “Eu irei a montanha para agradecer a Deus por ter poupado a vida de uma geração de obstinados ”

 

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Em Manaus, a Mesquita muçulmana com minaretes em verde e amarelo da Bandeira do Brasil, fica na Rua Ramos Ferreira, próximo do Instituto de Educação do Amazonas (IEA). É a primeira mesquita da região norte. De arquitetura persa-otomana, onde funciona o Centro Islâmico do Amazonas. Criada em 2012, é um bonito prédio que recebe muitas visitas.



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A Idade Média

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Dos banquetes luxuosos à miséria fora dos castelos. O cotidiano na Europa dominada pelo Cristianismo na “Era das Trevas”.

Por mil anos, a Europa dividida em feudos, foi controlada pela Igreja e por nobres. Enquanto os camponeses que formavam 90% da população eram analfabetos e trabalhavam 16 horas diárias numa rotina de submissão.

O dia de trabalho de um típico camponês na França, começa às 5h da manhã. O pai e seus dois filhos de 12 e 14 anos vão ao trabalho – colheita de trigo – A mãe e os mais novos de seis e oito anos estão na lida na horta e com os pequenos animais, galinhas, ovelhas, porcos.

Eles dormem juntos, sobre um amontoado de palha, iluminados por velas de sebo e aquecido por uma pequena fogueira no centro do cômodo.

TEMER O DIABO

O dia seguinte – sábado – é o único dia da semana em que a rotina árdua muda um pouco. A família segue o comando dos sinos e vão à missa. Rezam por suas almas e são orientados mais a temer o diabo do que adorar a Deus.

E assim, foi à vida durante dez séculos de 90% dos habitantes do Velho Continente. Visto por eles, a Idade Média foi uma época de contrastes sociais profundos, violência, doenças (a metade das crianças não chegava aos dois anos de idade). Tímido avanço tecnológico, à mercê das intempéries da natureza.

Nesse era longa, de rezas, pão e fuligem, as pessoas mais humildes morriam mais cedo, a média de vida era de 35 anos, os camponeses viviam sob a tutela dos senhores feudais e dos padres.

Já a nobreza construía castelos, cobrava impostos pesados e se alimentava muito bem. Um vestido de uma dama na nobreza equivalia a 280 dias de trabalho de um pobre camponês.

OS MOSTEIROS

Os mosteiros se espalham pela Europa como o grande e único centro do saber.  Em tempos sem imprensa, as bibliotecas dos mosteiros são um instrumento de controle.

As abadias funcionam como abrigo para os desvalidos e para os doentes. A saúde era precária e o saneamento não existia. A ciência médica é rejeitada, e as péssimas condições de higiene fazem aparecer as “pragas” das pestes na Europa.

Os religiosos ditavam as regras de comportamento social. Casamento, procriação, educação e obediência deveriam seguir as regras da Igreja.

Ninguém tinha direito de contestar o padre, nem mesmo em assuntos domésticos, e, principalmente em assuntos sexuais. Porém, nada disso, impedia os religiosos de fazer o que bem queriam. Muitos padres tinham mulheres. Pois o celibato, que proibe padre de casar, só se tornou obrigatório a partir do século 12, e mesmo assim, demorou décadas para ser plenamente aceito.

A EDUCAÇÃO MEDIEVAL

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Foi na idade média que os jovens passaram a frequentar as salas de aula para aprender a ler e escrever. As Universidades independentes foram criadas como uma forma de libertar dos poderes das autoridades urbanas.

Paris, Bolonha e Oxford eram umas atrações para os estudantes de todas as partes da Europa. Foram as primeiras Universidades particulares.  O crescimento do saber pode ser explicado pela expansão comercial nas grandes cidades a partir do século XII. Escrever os pedidos dos clientes, controlar as economias, pagar os impostos e registrar as dívidas, principalmente no final da Idade Média, era uma tarefa difícil, para aqueles que não tinham experiência no ramo.

Nas áreas rurais o acesso à escola era escasso. Para os camponeses com melhor condição, o sonho deles era ver seu filho se tornar padre.

Existia uma grande quantidade de escolas, mas elas tinham vida curta. Os professores, em sua maioria, estudantes itinerantes, ainda de formação incompleta, abriam e fechavam escolas de acordo com a necessidade de dinheiro. Às vezes, tanto na cidade quanto no campo, eles se contentavam com um contrato relativo às crianças de uma mesma família. As famílias ricas e de nobreza, contrata o mesmo professor por vários anos.

Além das escolas particulares de vida efêmera, os grandes mosteiros ofereciam dois tipos de escolas. Uma aberta para o público em geral, para as crianças que não seguiriam a vida religiosa. A outra exclusiva para os noviços a ser padre.

RICOS ESTUDAM – POBRES TRABALHAM

O ensino primário terminava mais ou menos aos 10 anos de idade. Trocava-se então a escola pelo colégio. Havia poucos alunos em sala de aula, no máximo 12. Isto porque, a maioria delas estava trabalhando no campo com seus pais. Só os ricos podiam deixar os filhos nas escolas por muito tempo.

A educação compreendia ler e escrever, as orações católicas que todo aluno deveria saber de cor antes de completar 12 anos. Além do alfabeto, e das três orações, havia o catecismo.

AS UNIVERSIDADES

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Entre o início do século XIII e o fim do XV, aproximadamente 60 universidades abriram suas portas na Europa.

Esse movimento, que surgiu no século XIII, com as Universidades de Paris e Bolonha, tem suas raízes no Renascimento do século XII. Em Bolonha, na Itália, a Universidade contou muito com o apoio dos papas. Entretanto, o processo evolutivo foi afirmando a independência em relação às autoridades civil e eclesiástica, passando a massa universitária a ter um papel maior na própria universidade livre.

O nascimento da Universidade de Paris aparece também como resultado de um processo lento, tendo suas raízes no fim do século XIII, com o apoio do Rei Filipe Augusto (1180-1223) e da Igreja Católica.

O DIREITO DE GREVE

A população universitária adquire com o tempo forte posição social e política. Entre os numerosos meios e pressão que utilizava para ser reconhecida, a greve era um recurso habitual. A suspensão dos cursos e ás vezes até a transferência de uma cidade em favor de outra eram feitos para conseguir suas reivindicações.

Essas conquistas de direitos ampliaram ainda mais a influência da universidade na sociedade, se expandindo por toda Europa, tornando-se assim meio de prestígio para os reis e os poderes locais, face os universitários participarem em massa dos cursos dos Reis e dos Papas.

A POLÍTICA

As cidades conquistam autonomia. O ritmo e a escala do desenvolvimento das cidades variavam muito de região para região, de cidade para cidade. Algumas comunas da região de Flandres (norte da Bélgica) ou da Itália se tornaram rapidamente grandes potências políticas.

As cartas de franquia – documento concedido pelos reis – reconhecendo o papel dos cidadãos na sociedade e outorgando a isenção de impostos, que começaram a ser emitidas no final do século X, eram tidas como concessões espontâneas, fruto da liberalidade senhorial.

As cartas de franquia aboliam ou suavizavam os estatutos servis, limitavam tributos e taxas, fixavam regras econômicas e da atividade judiciárias, que resguardavam a comunidade da arbitrariedade dos senhores feudais.

O DIREITO

Algumas concediam às elites o direito de julgar por si mesmas seus próprios conflitos, usando um tribunal formado por escabinos (magistrados) e presidido por um prefeito – chamado de preboste -formando o embrião dos foros da municipalidades. A mais famosa carta de franquia foi emitida pelo Rei Luís VI da França, em 1155, à cidade de Lorris, concedendo aos cidadãos que tivessem boa conduta, o direito de permanecer e viver naquela cidade ou consulado como era de costume da época.

O Prefeito ou preboste e os magistrados eram eleitos pelos cidadãos. Entretanto, antes da metade do século XIV, em quase todas as cidades, a eleição e reeleição era feita pelo sistema de indicação pelas famílias mais influentes da cidade, perpetuando assim seu poder.

Comunas e consulados garantiam também a defesa da cidade. Todos os burgueses (elite dominante), e até os cidadãos com idade para portar armas, serviam ao exército, sob as ordens dos magistrados municipais. Se algum cidadão comum não prestasse o serviço militar- no século XIII- essa obrigação era dispensada mediante uma contribuição financeira, ficava somente na guarda das muralhas e nas ruas da cidade.

ECONOMIA

Na era medieval as contas públicas já tinham as crises com as dívidas. Para acabar com o rombo nos cofres, foram criadas as taxas permanentes, impostos no geral e a figura do contribuinte.

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No reinado de Filipe, o Belo, Rei da França entre 1285 e 1314, ocorreu um aumento  astronômico dos gastos, principalmente militares, dando origem a novas tributações e o aumento de número de contribuintes. Aos poucos, foram criando taxas gerais sobre as vendas e a circulação de mercadorias. O embrião do ICMS.

Os nobres não exerciam comércio e serviam ao rei em suas guerras, por isso escapavam dos impostos. Pagava-se uma taxa por cada casa. As pessoas ligadas a Igreja, assim como os universitários, os estudantes e os professores eram isentos.

HAJA IMPOSTO

Na Europa do final do século XV, embora todos os Estados enfrentassem em diversos graus a revolução do imposto, a cobrança e a facilidade com era arrecadado atingiu seu grande fim e até o dia de hoje é assim. Portanto, ficou definida a cultura fiscal, onde tudo pertencia ao Rei.

OS BANCOS

Entre os séculos XI e XV, começa os primórdios dos bancos atuais. Depósitos, empréstimos, seguros, contabilidade, letras de câmbio, foram às ferramentas essenciais nos primórdios das finanças modernas.

A expansão comercial na Europa trouxe consigo uma nova atividade que ficaria para sempre. Bancos e banqueiros e os fenômenos ligados ao setor, como falências, especulação e quebras, originando as cíclicas crises do sistema capitalista.


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Nero Claudio César

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Filho de Domício Enobarbo com Agripina, filha de Germânico, pai de Calígula. Nero nasceu em Âncio, nove meses após a morte de Tibério. Entre muitas coisas horripilantes ao seu nascimento, uma frase de próprio pai, selaria o próprio destino de Nero: “Dele e de Agripina nada podia nascer que não fosse detestável e funesto ao bem público”.

Sinal evidente do seu destino calamitosos apareceu no dia da sua purificação – espécie de batismo – Agripina pressionava Caio Calígula para que escolhesse o nome do bebê. Ele então voltou os olhos para Claudio, seu tio, dizendo que ia dar ao pequeno o seu nome. Agripina não aceitou, porque Claudio era então joquete da corte, pois não lhe levavam a sério.

A própria Agripina pôs o nome de Nero. Aos três anos morreu o seu pai, Domício. Herdeiro da terça parte da herança não a recebeu, pois Calígula, seu primo e co-herdeiro, confiscou todos os bens.

Nesse meio tempo, Agripina foi banida da corte, vendo-se sem recursos, procurou a casa de sua tia Lépida, onde teve por professores de Nero um dançarino e um barbeiro.

Com a morte de Calígula, subiu ao trono romano seu tio, Claudio. Com isso, ela recuperou todos os bens deixados por seu pai Germânic, como também enriqueceu com a herança do seu padrinho Crispo Passieno.

Ainda em terna idade, antes mesmo de sair da infância, era um dos atores mais assíduos dos jogos troianos do circo. Aos 12 anos foi adotado por Claudio e confiado ao Senador Sêneca à sua educação.

Logo cedo, Nero mostrou-se falso e dissimulado em seu caráter. Pois, prestou testemunho na sua presença contra sua tia Lépida, que o acolheu na infância, para agradar sua mãe, que a perseguia nos tribunais.

Estreou nas funções públicas como prefeito de Roma, posto pelas mãos de Claudio. Pouco depois, casou-se com Otávia. Tinha 17 anos quando a morte de Claudio foi anunciada oficialmente. Dai como herdeiro ao trono apresentou-se a frente dos guardas e foi saudado como Imperador diante das escadarias do Palácio.

Concedeu a Claudio magníficos funerais. Rendeu homenagem à memória de seu pai Domício, e entregou à sua mãe Agripina a administração soberana de todos os negócios públicos e privados. Dai, passou a andar com ela em público, em sua liteira.

Na ânsia de dar uma ideia nítida de que seria um bom governante, declarou que: “reinaria de acordo com os princípios de Augusto”. Era amável e demonstrava clemência em tudo. Aboliu impostos pesados. Reduziu os prêmios dados aos delatores. Distribuía dinheiro aos pobres, dentre outras bondades.

Ofereceu espetáculos de todos os gêneros. Assistia às lutas do alto de seu proscênio. Nos combates de gladiadores não mandou matar ninguém, nem mesmo entre os criminosos.

Após algum tempo, não sentava mais no proscênio. Como, porém, resolveu depois ficar deitado apreciando os jogos por pequenas aberturas. Às vezes assistia nos pódios inteiramente abertos. Na consagração de seus termas e do seu ginásio, deu lugares de honra aos senadores e cavaleiros.

Fez um grande espetáculo em Roma, a entrada de Tiridate rei da Armênia, que veio render subjugação ao Império Romano. Primeiramente, Tiridate subiu os degraus da escada do trono e ajoelhou-se. Nero, tomando-o pela mão, ergueu-o e lhe cobriu de beijos.

Nas suas funções judiciárias, quase não respondia aos litigantes, senão no dia seguinte e por escrito. Durante as audiências, ao ouvir as partes, não obedecia ao agendamento, mas à ordem de chegadas. Todos os recursos de todos os julgamentos ficaram a cargo do Senado.

Entretanto, o que ele dava maior valor era a música, dança e artes em geral. Pouco a pouco, ele começou a praticar e exercitar o lado artístico, sem omitir nenhuma das precauções habituais dos artistas. Para a conservação da voz e aumento de seu volume, deitava-se de costas, resguardando o peito com uma folha de chumbo.

Tomara clisteres e vomitórios. Abstinha-se de frutas e comidas pesadas, apesar da voz fraca e roufenha. Estreou em Nápoles, e, encantado com jovens artistas de Alexandria que o louvavam, mandou trazer mais habitantes daquela cidade egípcia.

Enquanto cantava, meninos notáveis pela cabeleira abundante e o singular modo de vestir, prestavam serviço. Cantava, também, usando máscara dos deuses e dos heróis e a da mulher por ele amada no momento.

Conta-se que quando ia dar espetáculos, mulheres grávidas chegaram a dar luz no local e que muitos homens, cansados de ouvir e de aplaudir, encontrando as portas fechadas, pulavam escondidos do alto dos muros do palácio, ou fingiam-se de mortos para serem carregados para fora.

Certa vez entrou em Roma, na carruagem que outrora pertencia aos triunfos de Augusto, vestido em um manto púrpura, com uma clâmide respingada de estrelas de ouro, à testa a coroa olímpica e a pítica na mão direita. Testemunhava sua amizade e declarava seu ódio ás pessoas de acordo com a quantidade dos louvores que recebia.

A petulância, a libertinagem, o luxo, a avareza e a crueldade, foram os vícios a que se entregou do corpo e alma desde sua juventude.

Ao anoitecer, gostava de sair com um gorro ou um barrete na cabeça, percorrendo as tavernas dos bêbados, se passando por um simples vagabundo. Chegava às vezes a arrombar as portas de pequenas bodegas para roubá-las para satisfazer sua índole abjeta.

Porém, com o crescer dos vícios, abandonou as brincadeiras e os mistérios de mau gosto e, sem preocupação de esconder, começou a fazer os mais incríveis excessos. No Circo Máximo era servido nas refeições pelas prostitutas e tocadoras de flauta. Isso sem falar das relações sexuais com homens livres e das suas libidinagens com mulheres casadas.

Esforçou-se para transformar o jovem Esporo em mulher, arrancando-lhe os testículos. Carregou-o em régia-pompa, observando todos os ritos esponsalícios e o tratou como sua verdadeira mulher. Ou seja, castrou Esporo e se “casou” com ele.

Paramentou Esporo com os adornos das imperatrizes, conduzindo-o em sua liteira pelas ruas, cobrindo-o de beijos.

Ninguém duvidava que Nero desejasse coabitar com a sua própria mãe Agripina. Toda vez que andava de liteira com sua mãe satisfazia seus apetites incestuosos e provava esse fato com as manchas apresentados em suas vestes.

Prostituiu seu corpo a tal ponto que, maculados quase todos os membros, e como espécie de divertimento, cobria-se com uma pele de fera e ficava numa jaula, de onde se lançava, ao sair, às virilhas de homens e mulheres atados a um poste.

Depois de saciada a sua raiva, abandonava-se nos braços do criado Dorífero, que chegou a ser sua mulher. Como Esporo o fora também imitando com gritos e gemidos as virgens violentadas.

Considerava sórdidos e avarentos os que faziam contas das suas despesas. O que ele louvava e admirava no seu tio Caio Calígula, e que considerava como a sua mais alta glória, era justamente ter dissipado em pouco tempo as formidáveis riquezas deixadas por Tibério. Jamais usou duas vezes a mesma roupa. Gastava fortunas em construções luxuosas.

Com ciúmes de seu tio Britânico, cuja voz era mais agradável do que a sua e temendo de que um dia a lembrança do pai – Claúdio – o fizesse querido e preferido do povo, resolveu envenená-lo. O veneno foi preparado por Locusta, célebre envenenadora. Na primeira tentativa Locusta fez apenas um fraco veneno que provocou apenas cólicas em Britânico.

Nero ficou furioso e surrou Locusta com suas próprias mãos. Forçando-a preparar outro veneno dentro do seu próprio quarto. Deste modo, com ordens de Nero, levaram o veneno e o serviram a Britânico, que jantava com o próprio Nero. Morreu na hora. Locusta recebeu como pagamento vastas terras e muitos escravos.

Agripina, sua mãe o espreitava e criticava seus atos. Em várias ocasiões, ela o repreendeu publicamente. Para se vingar disso, Nero retirou-lhe a guarda de soldados e a expulsou de Roma. Foram três tentativas de envenenamento na intenção de matá-la. Só que Agripina tomava antídotos.

No quarto mandou construir um teto falso, que iria cair em cima de Agripina quando estivesse dormindo. Não deu certo, pois o plano fora revelado pelos confidentes de Agripina.

Tentou matá-la numa viagem de navio preparado para afundar. No momento da despedida, Nero cobriu-lhe de beijos até a ponta dos seios. Não deu certo, o navio afundou, mas, Agripina se salvou o nado. Por fim, tramou o assassinato da mãe, morta por mercenários a seu serviço.

Confessou muitas vezes que o espectro da sua mãe o perseguia com os chicotes e as tochas de fogo das Fúrias.

Afora Otávia, teve duas outras esposas. Popéia Sabina e Estatília Messalina, esta última era casada com Ático Vestino, cônsul no exercício de seu cargo. Logo depois de tentar várias vezes estrangulá-la, alegou que ela era estéril. O povo não aprovava o divórcio e não lhe poupava críticas. Finalmente mandou assassiná-la sob a acusação de adultério.

Como essa calúnia era vil e infame, todos sustentaram a inocência de Otávia. Diante disso, mediante suborno, obrigou seu pedagogo Aniceto a confessar no tribunal ter abusado dela por meio de artifícios. Popéia, com quem casou-se doze dias após o divórcio de Otávia, matou-a também com um pontapé quando estava grávida.

Sob pretexto de conluios conspiradores, assassinou Antônia, filha do falecido Claudio, que recusara casar-se com ele. Não houve nenhum parentesco que ele não tivesse matado. Entre estes estava o jovem Aulo Pláucio, a quem ele violentou antes de enviá-lo a morte dizendo: “Minha mãe, agora queira meu sucessor” querendo dizer com isso, que Aulo Pláucio tivesse sido amante de Agripina.

Matou Rúfio Crispino, filho de Popéia e seu enteado, só porque brincava de governar e comandar, afogado no mar por escravos a mando de Nero. Matou Exílio Tusco, filho de sua ama de leite. Obrigou Sêneca, seu mestre e preceptor a suicidar-se. Para o prefeito de Roma, chamado de Burro, em vez de mandá-lo remédio para a garganta, enviou-lhe veneno, matando-o. Matou Cássio Longino, por ter conservado numa velha árvore genealógica da sua família, as imagens de Caio Cássio, um dos Senadores assassinos de Júlio César.

Não perdoou nem ao povo nem as muralhas de Roma. Daí, simulando descontentamento com a feiura dos antigos edifícios, com a estreia e a tortuosidade das ruas, incendiou Roma, de forma tão acintosa, que o flagelo exerceu seu furor durante seis dias e sete noites.

Enquanto a cidade incendiava, ele contemplava do alto da torre de Mecenas, extasiado com a beleza do fogo. E cantou vestido com trajes de teatro, A ruína de Tróia.

Agiu rápido, para enganar, prometendo retirar gratuitamente os cadáveres e remover os escombros. Este incêndio despertou a ira do povo, aliada as fragorosas derrotas dos exércitos romanos na Bretanha. Derrota vergonhosa no Oriente. A paciência acabou no Senado, que depois de ter suportado durante quase 14 anos, Nero foi abandonado.

Além disso, vivia aterrorizado com os presságios sinistros. Sonhou com a morte de Agripina. Com Otávia, sua mulher, que o arrastava por entre trevas. Ora via-se coberto por uma nuvem de formigas aladas. Um cavalo das Astúrias, que ele gostava muito, apareceu-lhe com corpo de macaco. Do Mausoléu de Augusto, cujos portos se abriram sozinhos, ouviu sair uma voz que o chamava pelo nome. Enquanto essa loucura não parava, chegava-lhe as notícias de deserção e de derrotas das legiões romanas.

Em meio ao inferno, chamou Locusta pra preparar-lhe veneno, depositou-o numa caixa de ouro e saiu em passeio pelos jardins. Chegou aos tribunos e centuriões que o acompanhassem numa frota em fuga. Muitos hesitaram e outros se negaram.

Chegou a pensar em renunciar, mas teve medo de ser linchado antes de chegar ao Fórum. Deixou a decisão para o dia seguinte. Ao acordar, por volta da meia-noite, percebeu que a sua guarda militar o havia abandonado. Saltou da cama e mandou procurar os amigos. Não havia mais nenhum para lhe apoiar. Foi pessoalmente bater nas portas dos amigos, nenhuma se abriu.

Voltou para o seu quarto de onde os guardas haviam saído, levando até as cobertas e sua caixa de veneno. Rapidamente mandou que alguém procurasse o gladiador Espículo ou outro qualquer matador. Não encontrou nenhum. Tentou correr para se precipitar no Rio Tibre, mas não teve coragem. Resolveu fugir montado a cavalo, pés descalços, metido num manto desbotado, a cabeça coberta, um lenço cobrindo-lhe o rosto e acompanhado de quatro pessoas somente, entre os quais se achava Esporo. Na fuga, seu cavalo espantou-se em virtude de um cadáver na estrada, fazendo com que seu rosto se descobrisse, sendo assim reconhecido por um viajante.

Chegou a uma vereda, deixou o cavalo e saiu correndo por um canavial, fazendo com que suas roupas se rasgassem nos espinheiros. Entrou às escondidas numa vila e tomou água dum lamaçal e se escondeu numa casa velha, castigado pela fome e pela fome e pela sede.

Chegaram pessoas para vê-lo naquela desgraça, foi quando pediu que cavassem na terra um buraco do tamanho de seu corpo. Enquanto cavavam o buraco chorava e repetia: “Que artista vai morrer comigo”. Nisso chegou uma carta de Roma.

Nero leu e ficou sabendo: “Que ele havia sido declarado inimigo público pelo Senado e que estava sendo procurado para receber a punição, de acordo com o costume dos antigos”. Ao saber que se atava ao pescoço do paciente uma forquilha e o vergastavam até expirar, ficou apavorado. Tirou dois punhais e experimentou a ponta de ambos. Pedia que alguém o encorajasse a suicidar-se. Esporo, o seu grande amigo era por ele aconselhado a chorar. Em meio a lamentos e covardia, ainda queria se impor como um homem forte. Porém, ao saber da aproximação dos soldados com a missão de conduzi-lo vivo, bradou em grego: “O tropel dos velozes cavalos aturde-me os ouvidos”.

Em seguida, sacou o punhal e enterrou na garganta com a ajuda de seu secretário Epafródito. Achava-se ainda semivivo ao irromper um centurião, que apenas colocou o seu manto no ferimento e apreciou a morte de Nero.

Era de estatura mediana. Corpo coberto de sinais disformes. Cabelo pendendo para louro. A figura mais bela do que agradável. Olhos azuis e vista fraca. Pescoço grosso, ventre proveniente, pernas muito finas, saúde excelente, pois, apesar da excessiva devassidão em todo os quatorze anos de reinado, não adoeceu mais do que três vezes, mesmo assim sem se abster do vinho e das extravagâncias. Morreu aos 32 anos de idade, no mesmo dia em que mandou assassinar sua mulher Otávia.


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ROMA: a Cidade Eterna

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A história de Roma inicia-se com a fundação da cidade, em 753 a.C. e finaliza com a queda do Império em 476 d.C.

A LENDA

Um golpe de Estado e uma tentativa de homicídio teria desencadeado a fundação de Roma, tendo como protagonistas, segundo o mito popular os gêmeos Rômulo e Remo.

Tudo começou quando o Rei da Cidade de Alba Longa, Numitor, perde o trono para seu irmão. Mas Numitor tinha uma bela filha chamada Réia Sílvia. Então, o irmão usurpador temendo que ela pudesse dar herdeiros, resolve transformar Réia em sacerdotisa virgem.

Entretanto, Marte, o deus da guerra, se apaixona pela moça e a engravida dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo. O rei Numitor manda matar os bebês afogados no Rio Tibre. Porém, os criados com pena daquelas crianças, simplesmente os colocam num cesto e soltam na correnteza do Tigre.

Por sorte ou destino, o cesto entra num remanso do rio, são e salvos, são arrastados por uma loba até sua caverna. Um pastor chamado de Fáustulo os encontra e cria os meninos, batizando-os de Rômulo e Remo.

Quando cresceram, descobriram as suas origens reais e recolocam o vovô rei Numitor como rei de Alba Longa. Decidem fundar a cidade de Roma. Só que acabam se desentendendo e num duelo, Rômulo matou Remo. Portanto, teria Roma sido fundada por volta de 753 a.C.

As origens míticas de Roma remontam à sua fundação pelos gêmeos Rômulo e Remo. No entanto, os historiadores estabeleceram seu início no período compreendido entre 814 e 753 a.C.

A primeira forma de organização política de Roma foi a monarquia. Segundo a tradição, sucederam-se sete reis. Rômulo, o fundador após matar seu irmão Remo; Numa Pompílio, Túlio Hostílio e Anco Márcio, todos de origem Sabina. Daí vieram Tarquino, o Antigo, Sérvio Túlio e Tarquino, o Soberbo, de origem etrusca.

Os historiadores aceitam a existência dos três últimos.

ENÉIAS

Entretanto, muito antes de Rômulo e Remo a mitologia grega relata que um dos poucos sobreviventes da Guerra de Tróia, foi Enéias, sobrinho do Rei Príamo. Segundo a Eneida de Virgílio, ele conseguiu escapar com um pequeno grupo, enquanto Tróia era consumida pelo fogo.

Após navegar pelo Mar Mediterrâneo, Enéias chega à Itália, onde seus descendentes fundaram outra cidade, destinada a Glória – Romana – que depois de muito tempo conquistaria a Grécia, vencedora da Guerra e Tróia, pátria de Enéias.

JÚLIO CESAR E A TRAIÇÃO

Estadista romano de grandes conquistas. Em 60 a.C., formou o primeiro governo do triunvirato com Pompeu e Crasso e em 59 a.C., foi eleito cônsul. Após derrotar as tropas de Pompeu com quem havia declarada guerra, entrou vitorioso em Roma e foi nomeado ditador vitalício. No entanto, exerceu o poder segundo os princípios republicanos de Roma. Designou o seu sobrinho-neto Otávio, o futuro Augusto como seu sucessor. Cleópatra, sua amante, foi por ele colocada como rainha do Egito.

Porém, essa escolha e muitas conspirações políticas, selaram o destino do mais famoso dos Césares. No dia 15 de março de 44 a.C., quando se dirigia ao Senado para presidir uma reunião, foi assassinado pelos Senadores inimigos com 23 estocadores. Dentre eles, estava seu filho de criação, o qual antes de dar o último suspiro Júlio Cesar disse: “Até tu Brutus, meu filho?”. Sua mulher Calpúrnia, sonhou com ele morto em seus braços, dias antes do seu assassinato.

CAIO JÚLIO CESAR OTÁVIO

AUGUSTO (O DIVINO), FILHO ADOTIVO DE JÚLIO CESAR

O sucessor de Júlio Cesar, governou Roma de 43 a.C. a 14 d.C. após muitas guerras contra generais romanos rebelados, o Senado atribui-lhe o título de Augusto (divino). Deu a Roma uma nova Constituição em 28 a.C. Exerceu os poderes da República que lhe outorgou o Senado, com seu prestígio reorganizou o exército, as finanças e a administração pública a cultura e as artes. O mês de agosto é uma homenagem a seu nome

Casou-se três vezes e pai de uma filha. Dos sucessores que designou em vida, foi Tibério em 13 d.C., que subiu ao trono romano. Augusto morreu no dia 19 de agosto de 14 d.C.

Foi durante seu império, que nasceu na província romana da Judéia o menino Jesus Cristo. Quando foi crucificado reinava Tibério, filho adotivo de Augusto. Não há mais notícia de que Tibério tenha pelo menos ouvido falar da crucificação de Jesus Cristo.

A MORAL ROMANA

Antes de falar nos sucessores de Tibério, vamos simplificar aqui o conceito amplo da moral romana, ou seja, daquilo que era aceito pelas classes dominantes, como regras de comportamento social e norma de conduta suas críticas ou rejeições.

Pois bem, assim era normal a opção de homens e mulheres, na sua vida íntima e sexual. Daí era perfeitamente aceitável que um homem desposasse outro homem, ou uma mulher conviver com outra mulher, sem que isso importasse em reprovação pela sociedade da época. Era comum e sem descriminações a convivência homossexual. Portanto, o que vamos dizer daqui para a frente era perfeitamente aceito sem pudor na velha Roma.

CAIO SUETÔNIO TRANQUILO

Um dos maiores escritores de seu tempo, biógrafo da vida de 12 Césares, nasceu em 69 da era Cristã em Roma e faleceu por volta de 14 d.C.

Suetônio foi um grande estudioso dos costumes de sua gente e de seu tempo. Muito do que conhecemos hoje sobre o Império Romano, da magistral obra A vida dos 12 Césares.

CALÍGULA E NERO

A imagem de Calígula e Nero que sobrevive até hoje é a de dois imperadores excêntricos, preocupados apenas em ver seus desejos consumados a qualquer custo, e muito menos em comandar o maior Império do Mundo.

CALÍGULA (botas militares)

 

Homem de temperamento instável teve uma vida repleta de loucuras e atrocidades, como a tentativa de nomear o seu cavalo como Senador (Incitatus), além de acreditar que era um deus.

NERO

Passou para a história como um dos Imperadores mais violentos da Roma antiga. Perseguidor dos cristãos, Nero foi implacável ao enfrentar revoltas no Império e promoveu execuções sem parar. Por fim, vendo a cidade pegando fogo, elogiou a beleza do fogo, enquanto tocava e cantava em seu Palácio.

Assim, vou resumir o que disse Suetônio, sobre esses devassos, cruéis, excêntricos e loucos imperadores Romanos.

CAIO CESAR CALÍGULA

Calígula: botas ou sandálias militares.

Seu pai chamava-se Germânico, General Romano, (quase escolhido por Augusto), casado com Agripina, tendo com ela nove filhos, dos quais dois morreram ainda crianças e o terceiro ao sair da infância. Os outros sobreviveram ao pai. Eram três mulheres: Agripina, Drúsila e Lívia, nascidas num período de três anos consecutivos e três homens: Nero, Druso e Caio Cesar (este Nero não é aquele famoso).

O Senado, de acordo com as acusações do Imperador Tibério, declarou Nero e Drusos inimigos públicos. Restou Caio Cesar, seu apelido “Calígula”, deveu-se a uma brincadeira nos acampamentos, onde se educava entre soldados. Esta educação militar lhe valeu, em alto grau, o amor e a dedicação dos soldados.

Acompanhou seu pai Germânico na expedição da Síria. Depois de algum tempo passou a ser criado por sua avó paterna Antônia. Aos 21 anos de idade, o Imperador Tibério lhe conferiu a toga de magistrado. Enquanto seus dois outros irmãos eram banidos de Roma.

Entretanto, já nesta época, não conseguia segurar sua natureza feroz e depravada. Assim, mostrava fanatismo pelos espetáculos que oferecessem castigos e suplícios aos condenados.

Percorria de noite, as tavernas e os lugares perigosos, com capuz, envoltos numa capa e com perucas. Amava apaixonadamente a dança e as representações teatrais.

O Imperador Tibério suportava tudo isso, na esperança de que esse mau caráter pudesse mudar aos poucos. O velho Imperador estava errado e construía a sua ruína.

Calígula casou-se com Júnia Claudia, filha de Marco Silano, um dos mais nobres romanos. Porém, Júnia morreu de parto, daí Calígula seduziu Ênia Nevi mulher de Mácrom, comandantes das cortes pretorianos, prometendo-lhe casamento, caso assumisse como Imperador. Para isso, fez um juramento e assinou um documento firmado de próprio punho.

Nesta condição, Mácrom aceitou e planejou com Calígula o envenenamento de Tibério. Deu tudo certo, Tibério foi morto e quando ainda respirava agonizante, Calígula roubava-lhe o anel do dedo, além de estrangulá-lo com um travesseiro. Um criado que viu o crime, foi imediatamente crucificado.

Entretanto, Calígula vangloriava-se sem cessar de haver dado fim na vida de Tibério, sob pretexto de vingar-se da morte de sua mãe Agripina e de seus irmãos Nero e Druso.

Assumindo assim o governo do Império, ele satisfez os votos do povo romano. Ele era o Imperador querido, acima de tudo, pela maior parte das províncias e dos soldados.

Nos funerais de Tibério, o elogiou com firmeza e derramou muitas lágrimas. Exaltou pessoalmente o anônimo dos romanos, procurando por todos os meios a popularidade. Transferiu as cinzas de sua mãe e de seus irmãos para Roma, depositando com as próprias mãos nas urnas funerárias, sendo sepultadas no Mausoléu de Augusto.

Movido pelo mesmo desejo de popularidade, reabilitou condenados e banidos, anulou todas as acusações do reinado do reinado de Tibério. Declarou também que: “Não tinha ouvido para os delatores”, que condenavam, sem provas, os acusados.

Expulsou de Roma as prostitutas (spinthrias) das libidinagens monstruosas, depois de conseguir a muito custo que fosse jogado ao mar.

Permitiu e incentivou a leitura de obras literárias, que haviam sido censurados pelo Senado. Publicou as contas do Império de acordo com uso instituído por Augusto e interrompido por Tibério. Concedeu aos juízes uma jurisdição livre e sem recurso à sua pessoa.

Procurou, com o restabelecimento dos comércios, dar ao povo o direito do povo. Pagou fielmente e se fraudes as heranças deixadas em testamento por Tibério.

Devolveu vários reinos conquistados aos seus povos. Restitui em dinheiro toda as rendas confiscadas de seus legítimos donos.

Para mostrar gratidão por tais atos, foi-lhe conferido, dentre outras coisas, um escudo de ouro, que todos os anos, os sacerdotes conduziam ao Capitólio, seguido do Senado, cantando hinos em louvor de suas virtudes. Organizou combate de gladiadores. Entregou a cada cidadão cestos cheio de pão e carne. Mandava realizar espetáculos circenses para o povo romano.

Concluiu as obras deixadas por acabar, sob o reinado de Tibério, como o Templo de Augusto e o Teatro de Pompeu. Fez aquedutos e anfiteatros e agradava os romanos.

Até aqui falei de um príncipe. Quero falar agora de um monstro, disse Suetônio.

Então, certo dia vários reis submissos a Roma, estavam no Palácio de Calígula, quando de repente iniciou-se uma discussão a respeito da origem de cada um. De súbito, Calígula interrompeu a discussão pronunciando em voz alta: “Que não haja aqui senão um só rei”. Rapidamente todos calaram, pois o homem falava sério.

Prolongou até o Fórum, uma parte de seu palácio, transformando em quartos de dormir, o Templo de Cástor e Pólux. Ali se sentava, muitas vezes, entre deuses e se oferecia à adoração dos visitantes. Forçou seu sogro Marco Silano a suicidar-se, golpeando a garganta com uma navalha, dizendo que Silano queria apoderar-se do seu governo.

Manteve com todas as suas irmãs um comércio sexual vergonhoso, nos grandes banquetes promovia orgias e bacanais. Colocava suas irmãs embaixo dele, enquanto sua mulher ficava em cima.

Casou-se várias vezes. Ao mesmo tempo em que os anulava. Mandou buscar Lívia Orestila, no mesmo dia em que esta casou-se com Cneio Pisão. Durante o banquete nupcial de Lívia e Cneio Pisão, Calígula dissera ao Pisão que se achava deitado a sua frente: “Não te chegues tão perto de minha mulher”.

A própria avó paterna, Antonia, lhe dissera que Lólia Paulina, casada com Caio Mênio, Consul comandante dos exércitos, era belíssimas, mandou trazê-lo da sua província, trazida pela mão do marido. Dormiu com ela, e depois a mandou embora.

Mas, a mulher que Calígula amou ardosamente e constatemente foi Cesônia. Não era, em absoluto uma mulher bonita, nem tampouco era jovem. Pois já tinha três filhos doutro homem. Era na verdade, uma mulher insaciável, luxuosíssima e muito lasciva. Gostava de mostrar Cesônia nua para os amigos.

A ferocidade da sua natureza quando determinou que as feras do circo dos gladiadores deveriam ser alimentadas entre os criminosos presos. Pois custava caro dar comida aos leões com carne de gado.

Não poupou o pudor próprio nem alheio. Mantinha comércio sexual infame com Marco Lépido e o mímico Mnester.

Valério Catulo, jovem pertencente a uma família consular, censurou-lhe por tê-lo desonrado e fatigado os rins com seus contatos. Sem contar com os incestos praticados com suas irmãs e de sua paixão pela prostituta Pirálide. Quase não houve mulher, por meios ilustre que fosse que ele não tivesse desrespeitado.

Gastou todas as finanças do Império e todo o tesouro de Tibério. Destruía como velhos e caducos, todos os atos divinos Júlio César e Augusto. Não julgava nenhuma causa sem antes saber que iria ganhar e ao sentar-se, e ao completar a quantia desejada suspendia a audiência.

Impôs impostos às prostitutas, relativo a uma cópula. Este tipo de tributo valia também para as alcoviteiras. As mulheres casadas não estavam isentas de pagar.

Quando nasceu uma filha, lamentou-se que estava aceitando donativos. E se plantou no átrio do Palácio esperando os presentes. O povo que passava jogava moedas, logo se juntou uma montanha de dinheiro. Nesta ocasião, Calígula, de pés descalços, andava e rolava de corpo inteiro sobre o dinheiro.

Calígula era de alta estatura, tez palidíssima, corpo enorme, o pescoço e as pernas finas. Os olhos, assim, como as têmporas fundas. A fronte larga e carrancuda. Cabelos raros. O resto do corpo, cabeludo.

Sofria de epilepsia desde a infância. Acredita-se que Cesônia, lhe dava alguma poção amorosa. Era, sobretudo, atormentado pela insônia, pois não chegava a dormir mais de três horas por noite. Sempre perturbado por estranhos fantasmas. Ficava andando de um lado para outros no imenso Palácio, esperando o amanhecer do dia.

Numa viagem à Sicília, fugiu inesperadamente de Messina, em plena noite, assustado com a fumaça e o estrondo da cratera do vulcão Etna.

A roupa, o calçado e o resto do vestuário que ele sempre usou, nada tinham a ver com coisas de homem. Às vezes, calçava sandálias, coturnos, botas militares ou de tamancos de mulher.

Possuía palavra fácil e pronta. Pouco afeito a erudição e muito a eloquência.

Sua paixão por todos aqueles que lhe eram simpáticos beirava a demência, dava beijos no palhaço Mnester. Se alguém fizesse o menor ruído enquanto ele dançava, mandava retirar-se ou chicoteava com sua própria mão.

Para que ninguém perturbasse o sono do seu cavalo, Incitatus Senador, na véspera dos jogos, mandava impor silêncio à vizinhança com seus soldados.

Numerosos prodígios aconteceram à aproximação se sua morte. A estátua de Júpiter que ele mandou desmontar em Olímpia e levou para Roma, deu uma risada.

O Capitólio, nos idos de março, foi atingido por um raio. Ao consultar sobre o seu horóscopo, o astrólogo Sila asseverou-lhe a morte se aproximava. Na véspera de sua morte, sonhou que estava no céu, ao lado do trono de Júpiter e que este o arremessava de volta à terra.

No dia 23 de janeiro, ao passar por uma galeria subterrânea, o tribuno Cássio Queréias, aplicou-lhe uma estocada no pescoço, por trás, com o fio da espada, instante em que Cornélio Sabino, outro tribuno, atravessou-lhe o coração com sua espada. A trama foi planejada por centuriões do exército. Os conjurados enterravam a lâmina das espadas até nos genitais do moribundo Calígula, que viveu somente 29 anos. Cesônia foi morta ao mesmo tempo por um centurião.


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A Guerra de Tróia – Parte 2

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HEITOR E AJAX

Heitor sabia que aquela guerra era inútil e que um dia Troia iria desaparecer. Ele tentou pôr fim naquilo. Propôs nova trégua e desafiou os gregos para mandar o seu maior herói para um duelo. A sorte recaiu sobre o gigante Ajax.

O combate durou várias horas. No início da noite, Heitor e Ajax, extasiados e lavados de sangue pararam de lutar, caindo cada um pra seu lado. O resultado foi um justo empate. O duelo mais longo criou um laço de respeito e conhecimento mútuo entre os contendores.

Os dois inimigos trocaram elogios e presentes. Separaram-se como amigos, embora soubessem que no dia seguinte a guerra recomeçaria.

Na troca de presentes, Ajax deu a Heitor um suntuoso boldrié de cor púrpura. Heitor presenteou Ajax com sua espada de bronze marchetada de ouro.

A MORTE DE PÁTROCLO

Os gregos estavam sendo devastados pelos troianos. Heitor cercou as tropas. Nem Diomedes nem Ajax foram capazes de deter o avanço inimigo. Agamênon e Odisseu foram feridos e postos fora de combate.

Sem suas embarcações, os gregos estavam perdidos. Heitor estava incendiando as posições inimigas já próximo à esquadra.

Com Aquiles afastado dos combates, Pátroclo, seu primo, lhe pediu emprestada sua armadura. Mesmo a contragosto, Aquiles concedeu. Pensava Pátroclo que os troianos, quando vissem a legendária armadura de Aquiles, recuariam com medo.

Heitor encarou aquele que poderia ser o herói Aquiles. Daí entrou em cena o deus Apolo, fazendo com que Pátroclo perdesse o equilíbrio, momento em que sentiu na barriga a lança de bronze de Heitor. Para surpresa do troiano, não era Aquiles quem ali estava.

O RETORNO DE AQUILES

Ao receber a triste notícia da morte de Pátroclo, seu primo e melhor amigo, Aquiles se transformou numa fera indomável. Toda a admiração que tinha por Heitor transformou-se em ódio mortal, porque sabia que Pátroclo morrera por sua culpa, e voltou ao campo de batalha.

O herói deixou de lado as desavenças com Agamênon, e reuniu os gregos. Enquanto isso, sua mãe, a deusa Tétis, foi até as profundezas da terra e pediu a Hefesto, o ferreiro dos deuses, que fizesse para Aquiles uma nova armadura e um novo escudo. Tão logo recebeu seu equipamento, Aquiles partiu para os combates.

AQUILES E HEITOR

Encontraram-se os dois grandes heróis. O único ponto mortal era o pescoço de Heitor, e, valendo-se dessa vulnerabilidade do inimigo, a azagaia do grego entrou pela garganta e saiu na nuca do troiano. Heitor tombou morto e seu espírito desceu à Mansão dos Mortos, lamentando sua família não somente por sua juventude, mas também pela iminente queda de Troia.

PRÍAMO E AQUILES

Vingativo, Aquiles amarrou os pés de Heitor com o boldrié púrpura que este ganhara de Ajax, e arrastou o corpo ao redor das muralhas de Troia. Fez isso por dias seguidos ao redor do túmulo de Pátroco. O deus Apolo, entretanto, não deixou que o cadáver de Heitor entrasse em decomposição, pois os deuses queriam um enterro digno para o maior dos troianos.

Certa noite, quando o acampamento grego estava dormindo, o deus Hermes levou o rei Príamo até Aquiles. Devastado pelos anos de guerra, de perdas humanas e sofrimentos, o rei troiano viera implorar que o herói grego entregasse o corpo de seu filho Heitor. De joelhos pediu a Aquiles, na mais célebre cena da história da mitologia antiga:

– Para que Heitor tenha o funeral que merece, farei agora o que ninguém jamais faria: vou beijar a mão do homem que matou meu filho.

A coragem daquele homem, que viera sozinho à tenda do seu pior inimigo, pareceu a Aquiles muito mais impressionante que a bravura dos gregos. Aquiles mandou que seus soldados lavassem o corpo de Heitor e o ungissem com óleo. Depois, escoltou o rei Príamo até o território troiano e concedeu-lhe uma trégua de onze dias para que a cidade celebrasse os funerais do grande Heitor.

A MORTE DE AQUILES

Moira, a deusa do destino, como assim fora no nascimento da Grécia e na queda de Troia, novamente entra em ação. Ela havia decidido que Aquiles deveria acompanhar Heitor. Embora Aquiles já tivesse se arrependido daquela guerra, não dava mais para voltar atrás. O destino estava marcado.

Em vez de combater, Aquiles sempre estava no templo de Apolo Timbriano, que era uma singela construção nas proximidades de Troia, considerado território neutro. Lá, gregos e troianos, às vezes, se encontravam quando iam fazer preces e oferendas.

Numa dessas ocasiões, Aquiles avistou Polixena, filha do Rei Príamo. Foi amor à primeira vista. Aquiles ficou tão apaixonado, que chegou a se oferecer ao rei Príamo para combater ao lado dos troianos contra os próprios conterrâneos gregos, se Polixena se casasse com ele. O rei troiano aceitou.

Acontece, entretanto, que tanto Polixena quanto seus irmãos guardavam ódio mortal sobre aquele homem que havia matado seu irmão Heitor. Aproveitaram-se dessa oportunidade para se vingar. Os dois se encontravam sempre no Templo de Apolo. O envolvimento foi intenso, até que Polixena conseguiu de Aquiles a revelação mais importante: o herói grego lhe confidenciou que o segredo de sua imortalidade estava no seu calcanhar.

O matrimônio estava pronto, faltava apenas a celebração do casamento, que se realizaria no próprio Templo de Apolo. Aquiles veio sozinho e desarmado. Talvez não desconfiasse das reais intenções de sua noiva, mas o certo é que o grego cumpriu o pedido de sua amada. Lá estava a família de Polixena, ocasião em que Deifobo, irmão de Polixena e Heitor, deu-lhe um forte abraço, dissimulando recebê-lo como novo membro da família.

Naquele instante, estava selado o destino do mais famoso herói grego. Páris, que estava escondido de tocaia atrás da estátua de Apolo, dispara uma flecha envenenada e certeira no calcanhar de Aquiles. Odisseu, Ajax e Diomedes, que haviam seguido Aquiles por desconfiança, foram em seu socorro. Era tarde, o veneno mortal faz o mais poderoso dos gregos morrer nos braços de Diomedes.

Naquela noite, o corpo se Aquiles foi entregue a sua companheira Briseis que, mesmo sabendo que fora trocada por Polixena, cuidou das honras funerárias do amado. Esfregou os cabelos no corpo, lavou-lhe as feridas e preparou as chamas da pira de cremação.

Naquela mesma noite a alma de Aquiles desceu às profundezas da terra (Hades), onde o esperavam Pátroclo e Heitor. E as profecias iriam se cumprir uma a uma.

O SUICÍDIO DE AJAX

Após a morte de Aquiles, os gregos passaram a questionar quem seria seu sucessor. Ficou decidido que essa honraria caberia ao guerreiro mais temido pelos troianos. Agamênon enviou espiões às muralhas de Troia para descobrir qual seria o grego mais temido. Daí veio a surpresa, não era o gigante Ajax, que empatou na luta contra Heitor, mas sim Odisseu, que era o mais inteligente daquela guerra.

Diomedes se resignou, porém Ajax, sentindo-se ferido em seus brios, saiu em direção a um lugar ermo, longe das vistas de seus companheiros e suicidou-se, exatamente com a espada que, meses antes, Heitor lhe dera de presente, após a luta sem vencedor.

Após a morte de Aquiles e Ajax, os gregos começaram a se preocupar. A guerra estava no fim do décimo ano. Troia continuava em pé e com toda força. O vidente Calcas lançou a sorte. Troia seria destruída somente quando os gregos tivessem em seu poder as flechas de Héracles que Filoctetes detinha.

Só então Agamênon se lembrou do abandonado Filoctetes. Mandou Diomedes e Odisseu buscá-lo de volta. O moribundo Filoctetes recebeu a visita de Héracles em espírito, que lhe disse que sua ferida na perna seria totalmente curada, se aceitasse voltar para a guerra.

Assim, Filoctetes embarcou rumo a Troia, com dez anos de atraso. Sua perna foi sarada totalmente por Macaôn e Podolírio, filhos de Esculápio, deus da medicina, que tinham chegado da Grécia para ajudar na guerra.

A MORTE DE PÁRIS

Filoctetes, o melhor arqueiro da Grécia, protegido pelo semideus Héracles, desafiou Páris para um duelo. As flechas de Filoctetes eram envenenadas pelo sangue da Hidra de Lerna, morta por Héracles. Filoctetes as havia ganhado de presente do seu amigo Héracles.

Começado o duelo, o homem que raptou Helena é morto pelas flechas de Filoctetes. Logo se juntaria a Heitor, Aquiles e Ajax no Hades.

A MORTE DE PÁRIS E A VIÚVA HELENA

Entretanto, para destruir Troia, ainda faltava mais uma coisa. O vidente Calcas exortou aos gregos que o fim de Troia só aconteceria quando o sagrado Paládio, que estava em um lugar secreto da cidade, fosse retirado de lá. Sem isso, as muralhas de Troia seriam invencíveis.

Novamente, Helena aparece noutra tragédia humana. Com a morte de Páris, seus irmãos Helenus e Deifobo disputaram o amor da viúva. Helena escolheu Deifobo, o irmão mais velho de Páris. Helenus, com desgosto daquilo, afastou-se da cidade e foi viver sozinho nas encostas do Monte Ida. Lá os gregos o capturaram numa emboscada, e sob tortura, revelou onde o Paládio estava escondido.

Alguns dias depois, Odisseu conseguiu entrar num portão de Troia, disfarçado de mendigo. Naquela noite, roubou o Paládio, depois de matar os guardas. Além disso, teve a ideia de acabar com aquela guerra, da forma mais traiçoeira, com um presente inimaginável.

O CAVALO DE TROIA

Certo dia, do alto das muralhas da cidade, os guerreiros perceberam que os gregos tinham ido embora. Tudo estava sob chamas, os acampamentos do exército grego ardiam em cinzas fumegantes. Todos os navios haviam zarpado. Sobre as dunas somente um gigante cavalo de madeira. Ao se aproximarem daquele estranho artifício, os troianos aprisionaram um soldado chamado de Sínon, que dizia ser desertor dos gregos. Mas tudo não passava de uma armadilha.

O cavalo de madeira era muito grande e não passava nos portões da cidade. Os gregos deixaram esse “presente”, como oferenda à deusa Atena, cujo apoio eles haviam perdido. Para entrar com o cavalo na cidade, os troianos derrubaram parte dos portões. Entretanto, tiveram o cuidado de reparar de imediato a parte derrubada.

Na noite daquele dia, a cidade dormia, após ter festejado a “fuga” dos gregos. Foi então que Sínon, aquele que fingia ser desertor do exército grego, abriu um alçapão secreto na barriga do cavalo. Os soldados ali escondidos correram em silêncio pelas ruas adormecidas, abriram os portões para a invasão do exército grego, que se encontrava escondido na ilha de Tênedos.

A cidade foi tomada de assalto. As casas foram invadidas e as torres e palácios foram incendiados. O rei Príamo e parte de seus filhos foram mortos.

Cassandra, filha o rei Príamo, foi estuprada no templo da deusa Atena, por um soldado grego chamado de Ajax, o pequeno. Prenúncio de maldições.

O REENCONTRO DE HELENA E MENELAU

Troia incendiava, a resistência enfraquecia e o exército grego dominava a cidade. Menelau procurou até encontrar a mulher que o traiu. E finalmente a encontrou pelas ruínas do palácio em chamas. De espada em punho, estava a ponto de decepar-lhe a cabeça pela infidelidade causadora da mais sangrenta guerra, quando num instante a filha de Zeus e de Leda, teve sua vida preservada pelo instinto de mulher.

Ao ver Menelau, Helena sabia que ia morrer. Numa fração de segundos, abriu suas vestes e mostrou o corpo e os seios mitológicos. Helena lá tinha quase cinquenta anos à época, mas as gotas de icor em suas veias lhe conservavam a adolescência. Menelau, ao ver sua maior paixão, baixou a espada e pegou Helena pelos braços e levou-a de volta à Esparta, onde Helena passou o resto da vida entre remorsos e saudades.

O TRÁGICO RETORNO DOS VENCEDORES

No caminho de volta para a Grécia, vieram os desgraçados do destino. Embora não gostasse dos troianos, a deusa Atena repudiou o estupro de Cassandra em seu altar. Daí quando o navio do estuprador Ajax, o pequeno, se aproximava da região da Lócrida, ela mandou uma tempestade. O navio afundou, mas Ajax, o pequeno, não morreu, vez que era exímio nadador. Ao chegar salvo a terra, subiu num penhasco e de lá gritou:

– Nem mesmo os deuses podem me matar.

 Enfurecido com os insultos, Posseidon emergiu das profundezas e transpassou o pequeno Ajax com seu tridente mortal.

O TRISTE FIM DE AGAMÊNON

Outros líderes encontraram a morte quando chegaram em casa. Foi isso mesmo o que aconteceu com o maior vencedor da Guerra de Troia.

Agamênon retornou ao reino de Micenas, levando Cassandra, filha de Príamo, como sua concubina. Entretanto, sua esposa verdadeira, Clitemnestra, lá estava. Não foi fácil para ela, pois além do marido voltar para casa trazendo uma amante, Clitemnestra jamais o perdoou pelo sacrifício de sua filha Ifigênia, morta na frente dela e do pai, para os gregos vencerem a guerra de Troia.

Daí, no mesmo dia em que o marido chegou em casa, ela preparou uma surpresa fatídica, com a ajuda de um amante chamado Egisto, primo de Agamênon. A rainha Clitemnestra preparou-lhe um banho quente e relaxante com ervas aromáticas. Sem nada desconfiar, Agamênon tomaria o último banho de sua vida.

Bastante relaxado na banheira, sob os carinhos de sua mulher, Agamênon mergulhou e fechou os olhos. E, no instante em que ia se levantando, Clitemnestra jogou uma rede sobre seu corpo nu, prendendo-lhe braços e pernas. Nesse ínterim, Egisto saiu do esconderijo e cravou-lhe um punhal nas costelas.

Clitemnestra foi ainda mais longe, com Agamênon fora de combate, pegou um machado e dilacerou o corpo do marido. Agamênon foi morto no aconchego de seu lar.

Além de Ifigênia, Clitemnestra e Agamênon tinham outros dois filhos, Orestes e Electra, que eram pequenos quando sua irmã Ifigênia fora morta e mal se lembravam dela. Por essa razão, os dois irmãos ficaram horrorizados com a brutal morte do pai.

Egisto casou-se com Clitemnestra e tornou-se rei de Micenas. Entretanto, com medo de ser deposto, mandou o pequeno Orestes para o exílio. Anos depois, Orestes voltou disfarçado e, com a ajuda de sua irmã Electra, entrou no palácio.

O MATRICÍDIO DE CLITEMNESTRA

Essa morte foi um dos maiores conflitos trágicos da mitologia grega. Para vingar a morte o pai, Orestes chegou aos aposentos reais e encurralou os assassinos de seu pai, e matou sua própria mãe.

Contudo, a tragédia profetizada ainda não se completara. Orestes tornou-se rei de Micenas. Tempos depois, passou a coroa para seu filho, Tisamenos. Nessa época, um grande exército invadiu a cidade de Micenas.

Esses povos invasores eram os Heráclidos. Liderados por Aristômacos, neto de Héracles, que chegaram para resgatar a herança de seu antepassado. Aristômacos matou Tisamenos, neto de Agamênon, o Rei dos Heróis. E assim, desapareceu da face da terra para nunca mais ressurgir, a linhagem do vencedor da Guerra de Troia.


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A Guerra de Tróia – Parte 1

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“Os deuses criam sofrimentos e conflitos para que os homens tenham histórias para contar”, disse Homero.

Tragédias, traições, premonições, destinos, mortes, ressentimento, remorsos, mitos e lendas envolvem a maior guerra do mundo. No meio disso tudo, uma mulher – Helena -, a mais bonita de todas as mulheres.

A GUERRA DE TROIA (A mãe de todas as guerras, na Idade do Bronze)

Narrada nos poemas de Homero, o pai da História, escritos por volta do século 9 a.C., foi daí que a mitologia grega começou a virar História no sentido literal da palavra. Essa guerra épica deu origem aos dois poemas famosos da literatura clássica: Ilíada, que relata os últimos anos da guerra; e a Odisseia, que narra a fantástica viagem de Odisseu de volta à Grécia (Odisseu foi um dos principais heróis a lutar contra os troianos).

Será que Troia existiu mesmo? Muitos arqueólogos acreditam que sim. Hoje, Troia ficaria na atual Turquia. Entretanto, dúvidas a parte, o certo é que a Guerra de Troia foi o motivo fundador da cultura grega.

O poema de Homero não se prende a uma luta de heróis contra bárbaros. Pelo contrário, o legado que nos deixou foi uma conflagração de paixões profundamente humanas. O amor dos homens por mulheres será o centro das atenções da Mãe de todas as guerras.

A GUERRA PELA MULHER MAIS BONITA DA TERRA

O maior conflito travado na mitologia grega teve como estopim a beleza de Helena. A traição e a paixão dessa mulher, que virou história, causou a destruição de Troia. Que por sinal, foi construída por dois deuses da mitologia: Posseidon e Apolo.

A ADOLESCENTE HELENA

Desde menina, Helena despertava nos homens a vontade louca de serem escolhidos por ela. Nascida em Esparta, Helena era nada mais nada menos, do que filha de Zeus e Leda. Mexia facilmente com a fantasia dos homens, pois era a mais bela mulher da face da terra. Helena foi gerada quando sua mãe Leda, mulher do rei Tíndaro, estava tomando banho nua no rio Eurotas, do outro lado do Mar Egeu. Zeus não perdeu tempo, desceu do Olimpo e em forma de cisne, possuiu Leda sobre a relva. Naquela mesma noite, Leda deitou-se com seu marido, o rei Tíndaro de Esparta. Nove meses depois, Leda deu à luz aos quadrigêmeos: Helena e Pólux, filhos de Zeus, e Clitemnestra e Castor, filhos de Tíndaro.

Quando Helena tornou-se mulher, os príncipes e guerreiros da Grécia logo se candidataram para se casar com ela. Seu pai adotivo, o rei Tíndaro de Esparta, vendo que era inevitável o casamento, convocou todos os pretendentes a fazer um juramento: no caso de Helena ser raptada após o casamento por algum deles, todos os outros defenderiam o marido escolhido.

O CASAMENTO DE HELENA (Às vezes, tudo o que somos é determinado por algo que destruímos).

Precedentes.

Quando Helena tinha apenas 12 anos, sua beleza logo se tornou motivo de confusão. Foi o caso de Teseu, rei de Atenas, que invadiu Esparta e raptou Helena. Entretanto, seus irmãos Castor e Pólux, convocaram um batalhão de espartanos e devastaram Atenas até encontrar Helena e levá-la de volta à Esparta, nascia então a rivalidade entre Atenas e Esparta.

Mas, quando tornou-se mulher, Helena casou-se com Menelau, irmão de Agamênon, o poderoso e riquíssimo rei de Micenas.

Porém, esse casamento estava condenado pelo destino ao fracasso. Ou melhor, ao maior banho de sangue de todas as histórias da mitologia.

O CASAMENTO E PELEU E TÉTIS

Rottnhammer, Hans I. (1600). Festa dos Deus (O casamento de Tétis e Peleu)

Tétis era cobiçada por muita gente pela sua formidável beleza. Até Zeus por ela se apaixonou, e só não casaram, face à maldição de que “o filho de Tétis seria muito mais poderoso que o pai”.

Então, quando Helena ainda era uma garota, ocorreu o casamento de Tétis com Peleu, que era mortal e um dos argonautas, enquanto ela era filha do deus marinho Nereu. Essa união foi trágica. Tétis seria jovem e bonita para sempre, enquanto o mortal Peleu envelheceria como todos os homens.

Mesmo assim foi uma festa de arromba. O chefe do cerimonial era o centauro Quíron, que mandou convite para todo mundo, quer dizer, para todos os deuses e mortais.

A festança foi grande, e foi até que, pela última vez, deuses e mortais se sentaram lado a lado numa farra, no casamento mais badalado da mitologia. Tudo corria tranquilo e sem problemas, até o momento em que chegou uma figura que ninguém gostava chamada Éris, a deusa da discórdia.

Éris chegou à festa de penetra, pois o centauro Quíron não mandou convite para ela. Aliás, todos respeitavam os maléficos poderes de Éris, mas ninguém queria a sua companhia, pois era acostumada a fazer jogo sujo, semeando conflito e muita fofoca. Alguns achavam que ela era um mal necessário, pois sem brigas, a vida dos deuses e humanos seria um tédio.

Enquanto rolava a festa, Éris ficou isolada planejando estragar tudo, pois era especialista em arrumar confusão para os outros. Além disso, estava indignada de estar ali sem ser convidada.

Em dado momento, ela foi ao jardim das Hésperides e colheu uma maçã dourada, e com uma agulha, escreveu na casca da fruta as fatídicas palavras: “À mais bela”. Em seguida, voltou à festa e fez a maçã rolar até a mesa dos convidados. Zeus apanhou a maçã do destino e leu em voz alta a dedicatória. De repente o silêncio tomou conta do ambiente. Todos os olhares dos convidados voltaram-se às beldades divinas: Hera, Atena e Afrodite. Todas queriam o trono de mais bonita, e logo o assunto tornou-se disputa entre elas.

Zeus olhou pros lados e disse que não iria se meter naquela briga de mulher. Ninguém quis ser a árbitro desse concurso de miss universo da mitologia. Vamos que de repente uma tomasse a coroa da outra, seria notícia de “imprensa” do mundo todo.

Em meio ao burburinho dos convivas, ouviu-se alguém falar de um pastorzinho de ovelhas chamado Páris. Rapidamente, Zeus tomou uma decisão e mandou que esse talzinho, tão experimento em beleza feminina, julgasse qual seria a mais bonita.

O JULGAMENTO DE PÁRIS

O julgamento de páris. Pintura a óleo.
GIORDANO, Luca (Artista). (1681). O Julgamento de Páris.

Páris era filho de Príamo, rei de Troia. Quando estava grávida de Páris, sua mãe, Hécuba, teve um sonho que dava à luz a uma tocha – e as chamas incendiavam toda cidade de Tróia. Um sacerdote previu a ela que a criança que estava em seu útero seria a desgraça de Troia. Por isso, tão logo nasceu, Páris foi entregue ao soldado Agesilau, para que o deixasse abandonado nas montanhas. Em vez disso, Agesilau entregou o recém-nascido a uma família de criadores de cabras, que o criaram nas encostas do Monte Ida. Cresceu e tornou-se belo demais.

De repente, num clarão de luz, aparecem na frente do rapaz as três candidatas, todas com a mesma pergunta: qual a mais bonita?

– Todas são lindas, não tenho como decidir, disse Páris.

As concorrentes apelaram por uma estratégia antiga: o suborno. A propina começou nessa primeira licitação na Grécia. Hera lhe prometeu o domínio sobre todos os povos da Ásia. Atena lhe transformaria no mais sábio homem da terra. Porém foi Afrodite quem lhe ofereceu a propina mais sedutora:

– Se me escolher, eu lhe darei o amor da mulher mais bonita entre os mortais – Helena de Esparta.

Na hora o pastorzinho de cabras aceitou, e escolheu Afrodite a mais linda de todas as deusas do Olimpo. Em contrapartida, ganhou o ódio de Hera e Atena. E mesmo sem saber, condenou Troia à destruição.

Quando isso aconteceu, Páris era um simples pastorzinho de ovelhas e não sabia de sua origem nobre. Vez por outra o soldado Agesilau aparecia para visitá-lo dizendo ser seu tio, mas nada revelava sobre o segredo de seu nascimento. Muitos anos se passariam para receber a recompensa prometida por Afrodite.

O PRÍNCIPE PÁRIS

Tempos depois do célebre julgamento, a origem de Páris foi revelada. O rei Príamo decretou os jogos olímpicos de Troia. Páris foi competir e venceu os príncipes Heitor e Deifobo, filhos do rei Príamo. Indignados com aquela derrota para um plebeu desconhecido, os dois príncipes estavam prestes a matar Páris quando Agesilau interrompeu a questão e revelou que aquele rapaz que vencera a corrida, era ninguém menos que o irmão caçula de Heitor e Deifobo. Os pais verdadeiros, rei e rainha, reconheceram-no como filho e o integraram ao palácio.

O ex-criador de ovelhas deixou para trás a pobreza das encostas do Monte Ida. Lá também deixou a ninfa Enone, que o amava. Enone era famosa por seus conhecimentos em ervas curativas. Entre lágrimas, profetizou ao amado: um dia, ele viria até ela em busca de ajuda, mas seria tarde demais.

Páris não deu mais importância para sua ex-amada, e chegando à Tróia esqueceu rapidamente seu primeiro amor. Da simplicidade ao luxo, Páris agora príncipe troiano, lembrou-se da promessa de Afrodite, pois meteu na cabeça que só seria feliz quando se casasse com a mulher mais bonita do mundo.

PÁRIS E HELENA (O encontro fatal)

O rei Príamo de Troia decidiu enviar uma embaixada ao rei Menelau de Esparta, casado com Helena. Páris pediu ao pai a honra de ser o chefe da embaixada, pedido consentido, partiu de navio para Esparta. Sua irmã caçula, Cassandra, chorava muito e profetizava:

– Ele nos trará a morte, o fogo e a ruína.

Ninguém suspeitava das reais intenções de Páris. O rei Menelau tratou o hóspede com o máximo de cordialidade. Tanto Menelau quanto seu irmão Agamênon queriam concretizar o domínio na Grécia, aliando-se à cidade mais gloriosa do mundo antigo – Troia. Nenhum deles poderia acreditar que a missão de Páris era apenas uma fachada.

Então, Afrodite não falhou na promessa. Tão logo foi apresentada a Páris, durante um banquete no palácio, Helena foi dominada por uma paixão fulminante. Páris viu o desejo nos olhos de Helena e teve certeza de que os poderes de Afrodite estavam dando certo. Daí ninguém mais segurou. Páris e Helena trocavam olhares apaixonados nos banquetes e conversas escondidas no palácio.

Para completar, Menelau teve que viajar para a cidade de Creta, onde havia falecido seu avô materno, Croteus. Imediatamente partiu para os funerais. Mal o rei Menelau deu as costas, Páris raptou Helena na calada da noite, levando-a para onde estava ancorado o navio troiano.

Helena se deixou levar, com uma mistura e medo e excitação. Quando o navio estava bem longe de Esparta, na noite seguinte, a mulher mais linda do mundo pertencia a Páris. O poder de Afrodite lhe dominou pela paixão. Helena foi para Troia, e, sem saber, condenou milhares de homens e mulheres à morte.

OS PREPARATIVOS PARA A GUERRA

Menelau e seu irmão Agamênon convocam todos os heróis e guerreiros da Grécia, em nome do juramento prestado ao rei Tíndaro, de que todos defenderiam o marido de Helena.

Foi organizado o maior exército de todos os tempos da mitologia grega, sob o comando e Agamênon.

Odisseu, Ajax, Nereu, Diomedes e outros, faziam parte da tropa de elite. Mas a grande estrela sangrenta foi Aquiles. Quando Agamênon conclamou toda a Grécia para a guerra, Aquiles tinha quinze anos apenas. Mas sua fama já começava a correr.

Um sacerdote por nome de Calcas, fizera uma profecia famosa: os muros de Tróia jamais cairão, a menos que o filho de Tétis e Peleu entrasse na guerra. Apesar de ter apenas quinze anos, ele tinha um insaciável desejo por fama e glória. O jovem príncipe reuniu o exército da Ftia, reino de Peleu, e preparou-se para partir. Seu pai, Peleu, brindou o filho com uma enorme lança de carvalho e uma armadura dourada, que havia ganhado de presente em seu casamento com Tétis. Aquiles fez questão de levar o seu primo e melhor amigo – Pátroclo.

Ao chegarem próximo à Troia, Aquiles caminhava na praia sozinho, quando de repente as águas do mar se encresparam, era sua mãe, Tétis, a deusa, que emergiu diante do filho, profetizando seu futuro.

– Meu filho, agora só existem dois caminhos. Pode escolher uma vida longa e pacata. Se for assim, morrerá no anonimato e logo será esquecido, mas terá o gosto da felicidade. O outro caminho leva à glória e também à morte. Se for à Troia, morrerá jovem, sua alma descerá à Mansão dos Mortos, mas sua lembrança viverá para sempre enquanto houver homens sobre a Terra.

– Morte e glória, disse ele.

– Você as terá, respondeu Tétis, mergulhando no mar, para ninguém vê-la chorar.

A MORTE DE IFIGÊNIA

A escolha de Aquiles, se fosse hoje, pareceria uma loucura. Mas, no mundo antigo, fazia sentido. Os gregos acreditavam que a vida humana era um breve momento perante uma eternidade de trevas.

Após a morte, a alma viajava para as sombrias regiões do Hades (profundezas da terra), onde perdia todas as lembranças. O espírito entraria para a eternidade em um estado de letargia. Só despertaria quando os vivos lhe oferecessem sacrifícios. É por isso que os gregos davam o máximo valor para o tempo em que viviam. Ou seja, enquanto vivos estivessem, faziam de tudo para que essa existência sobrevivesse para as gerações futuras. Daí, esforçavam-se ferozmente para serem heróis. Isso porque, depois de morto, já era.

A esquadra grega estava pronta para rumar em direção à Troia, mas foi detida por uma calmaria que paralisou o Mar Egeu. Os navios gregos ficariam imóveis por vários dias. O plano de invadir Troia estava indo ao fracasso. Os soldados começavam a ficar impacientes com Agamênon e ameaçavam um motim.

O sacerdote Calcante foi chamado para explicar o fenômeno daquela maré de azar.

– A culpa é sua, Agamênon, pois você provocou a ira de Ártemis, a deusa-caçadora.

Nesse momento, Agamênon lembrou-se que havia matado uma corsa consagrada à deusa e de vangloriar-se desse feito.

No entanto, a causa mais provável foi que, durante uma cerimônia religiosa em Micenas, onde ele era o rei, Agamênon fez promessa solene à deusa Ártemis. Jurou sacrificar naquele ano em sua honra, a menina mais bela que nascesse em Micenas. Agamênon não sabia que sua esposa, Clitemnestra, estava grávida.

Quando nasceu a princesa Ifigênia, naquele mesmo ano, Agamênon não teve coragem de matar sua filha recém-nascida. Mas os deuses não esquecem, pior as deusas. Agora Ártemis deu a última palavra. Para Troia ser destruída, Ifigênia tinha que morrer.

Alguns chefes gregos já ameaçavam voltar, quando Menelau obrigou o irmão a enviar uma mensagem a Micenas, para trazer Ifigênia a pretexto de casar-se com Aquiles. Tudo falso. Ifigênia veio a Áulis, região onde estava a esquadra, acompanhada de sua mãe, Clitemnestra, ambas empolgadas com aquele casamento cobiçado.

No entanto, um soldado que sabia da farsa, contou tudo a Clitemnestra, imediatamente ela foi até Aquiles para implorar sua ajuda. Porém, Aquiles nada sabia daquela trama. Quase houve morte, pois ele não gostava muito de Agamênon. Aquiles pôs-se à frente de Ifigênia e desafiou seus compatriotas. Ocorreu uma confusão entre soldados e chefes. Porém Aquiles sabia que não resistiria muito. Os soldados pediam o sacrifício da moça.

O nascimento da Grécia estava prestes a se transformar num desastre. Nesse ínterim, Ifigênia interrompe em meio à balbúrdia, com a mão no ombro de Aquiles e dá o veredito:

– Guardem suas armas. Eu é que devo morrer hoje para salvar a Grécia, essa é a vontade dos deuses.

Então, sem mais palavras, caminhou até o altar de Ártemis, onde o sacerdote Calcas a esperava de adaga em seu punho. Daí, o sangue de Ifigênia jorrou.

A frota finalmente partiu, mas a morte deixou um rastro sombrio. Os soldados viram uma figura vestida de negro cavalgando para longe. Era Clitemnestra, a mãe de Ifigênia, de luto, voltando para casa com um único desejo: vingar-se de Agamênon, seu marido e pai desnaturado.

Além das tropas humanas, os deuses também entraram na guerra. Hera e Palas Atena estavam de lado dos espartanos para destruir Troia, como vingança do troiano Páris ter escolhido Afrodite como a mulher mais bonita do mundo, na festa de casamento de Peleu e Tétis. Enquanto a miss mundo Afrodite, claro, estava com os troianos do seu protegido Páris. Quem também participou da guerra foram Apolo, Zeus e Posseidon, mas não se definiam. Ora para um lado, ora para outro. Eram como políticos que ficam em cima do muro.

O CALCANHAR DE AQUILES

Quando Aquiles nasceu, sua mãe, a deusa Tétis, o levou até as margens do rio Estige, que é um dos rios que corre nas profundezas da terra, conhecido por Hades, o mundo dos mortos. Segurando-o pelo calcanhar, Tétis mergulhou o bebê nas águas do rio, para que se tornasse invulnerável o seu corpo. De fato a única parte do seu corpo que ficou fora da água foi o calcanhar, onde sua mãe lhe segurou (Aquiles tinha o corpo fechado!).

COMEÇA A GUERRA

A imensa frota grega composta de 1.133 navios, finalmente aportou numa ilha próximo à Troia. Agamênon mandou uma embaixada a Troia, formada por Odisseu, Menelau e Diomedes. Levavam um ultimato: os troianos teriam que entregar Helena, ou lutar até a morte. O detalhe é que Menelau, o esposo de Helena, estava na embaixada. Não se sabe o que pensou Helena, ao ver o ex-marido.

A embaixada voltou com uma resposta curta e grossa: “Não”. O povo da cidade gostava dela, o sogro de Helena, o rei Príamo, lhe adorava, sem falar na louca paixão por Páris.

FILOCTETES, O ABANDONADO

Enquanto aguardavam o retorno dos emissários, o arqueiro Filoctetes foi dar uma caminhada nos rochedos da ilha de Tênedo. A deusa Hera, mulher de Zeus, do alto assistia a tudo e naquele momento aproveitou-se para vingar-se da amizade de Filoctetes com Héracles. A rainha dos deuses fez com que uma cobra venenosa mordesse a perna de Filoctetes.

A perna inchou-se e apodreceu. Atormentado pelos deuses, passava as noites gritando e delirando de dor. Vendo que aquele homem sofria demais, Agamênon abandonou Filoctetes numa ilha vizinha. Com o tempo a perna sarou, porém ficou manco e vivendo como eremita na solidão, amargando um profundo rancor contra seus compatriotas que o deixaram degredado.

Jamais imaginava, o solitário Filoctetes, que seus amigos um dia voltariam implorando seu perdão e ajuda.

Em sua maioria os troianos esperavam que as ameaças gregas não passassem de blefe. Ora, foi apenas um par de chifres que Helena botou em Menelau, não é por isso que o mundo vai se acabar.

Alguns dias após a partida da embaixada, Troia foi despertada pelos sentinelas. Multidões correram para o alto das muralhas, onde o mar estava repleto de navios. Enfim, os gregos não estavam blefando. Os portões de Troia se abriram e uma tropa de cavaleiros disparou rumo ao litoral, sob o comando daquele que seria o maior inimigo dos gregos nos dez anos seguintes: Heitor, o filho mais velho de Príamo.

Era um guerreiro tão valoroso e um homem tão honrado que sua memória seria cantada, séculos depois, pelos descendentes de seus próprios inimigos.

Tão logo chegou à praia, Heitor ficou intrigado. Os navios gregos estavam parados, a alguns metros da arrebentação das ondas. Nenhum inimigo desembarcou. É que mais uma vez a profecia amedrontou os gregos. Acreditava-se que o primeiro soldado a pisar nas areias de Troia, seria morto no mesmo dia. Espertamente, Odisseu jogou seu escudo na água e pulou sobre ele, com todo o cuidado para não encostar nenhum pouquinho na areia. Protesilau, rei da Filácia, pensou que Odisseu estivesse desembarcado, e saltou à praia, afundando até os tornozelos nas dunas salgadas.

A cavalaria troiana avançou sobre ele. O rei Protesilau derrubou vários troianos, mas a lança de Heitor foi fatal e morte certa. Em questão de poucos minutos, Heitor massacrou dezenas de gregos. Entretanto, a morte de Protesilau encorajou as tropas gregas a um desembarque maciço, tendo ocorrido a primeira batalha entre gregos e troianos, chegando ao fim sem conclusão.

O príncipe Heitor, vendo a superioridade numérica grega, bateu em retirada rumo aos portões da cidade, onde estavam bem protegidos pelas muralhas. Por sinal, construídas pelos deuses Posseidon e Apolo.

Diante de tudo isso, Agamênon e seus heróis sabiam que as muralhas de Troia eram inexpugnáveis. Seria loucura atacar os altíssimos muros da imponente Troia. O jeito então era vencer os troianos pelo cansaço. Ergueram uma paliçada para proteger seus navios, construíram um acampamento e lá ficaram. Nesse impasse, passaram-se nove anos.

Durante todo esse tempo, os gregos saquearam cidades vizinhas e aliadas a Troia, como Lesbos e Antandros, deixando palácios em chamas e raptando mulheres.

Agamênon sequestrou Criseida, filha de Crises, um sacerdote de Apolo. Aquiles raptou Briseis, rainha da cidade de Lirnesso. Só que Aquiles se apaixonou pela raptada. E essa nova paixão também trouxe consequências fatais tanto para gregos quanto para troianos.

A DESERÇÃO DE AQUILES

Na primavera do décimo ano, os rumos da guerra começaram a virar. Enfurecido pelo rapto de sua filha, o sacerdote Crises implorou a ajuda de Apolo. Deu certo. O deus Apolo lançou setas mortais contra os exércitos gregos. Durante nove dias, uma praga devastou os guerreiros. Suspeitando da origem daquela peste, os soldados exigiram que Agamênon devolvesse Criseida a seu pai. Agamênon não gostou de ser instado pelos subordinados.

Muito chateado com isso, resolveu descontou a raiva em Aquiles, exigindo que lhe entregasse a rainha Briseis, daí então libertaria Criseida. Ou seja, era um toma lá dá cá de mulheres raptadas. Muito irritado, Aquiles entregou Briseis a Agamênon.

Daí, com a moral baixa perante a tropa, Aquiles se retirou da guerra e abandonou o exército grego.

PÁRIS E MENELAU

Desde o começo da guerra, a defesa de Troia foi liderada por Heitor, filho do rei Príamo. Ao saber que Aquiles desertara do exército, Heitor aproveitou o momento para contra-atacar. Pela primeira vez em dez anos os portões de Troia se abriram, despejando um exército massacrante. Os gregos foram cercados e a batalha dava vitória aos troianos.

Em meio ao combate, destacou-se uma figura, que até então estava afastado da guerra. Era Páris, vez que seu irmão Heitor lhe chamou:

– Páris, por que te escondes no quarto da tua mulher? Tu és incapaz de olhar nos olhos do homem que desonrastes?

O desprezo nas palavras do irmão tocou nos brios do valente Páris, e na tarde daquele dia, avançou para os campos de batalha. Afinal, Menelau cruzou o mar para vingar-se de Páris.

Finalmente encontraram-se, cara a cara, Páris e Menelau, ambos com sede de matar. Principalmente Menelau, traído por Páris. Menelau avançou de espada em punho. Entretanto, antes que o combate começasse, Heitor e Odisseu interromperam a luta propondo uma trégua. Todos concordaram, pois aquela guerra não tinha fim, e já havia morrido gente demais.

Ficou acertado que haveria um duelo entre Menelau e Páris, o vencedor ficaria com Helena e a guerra acabaria, sem morrer mais ninguém.

O combate começou, dois heróis lutando pelo amor de uma mulher. A lança de Páris fica no escudo de Menelau e a espada do rei de Esparta derruba o príncipe troiano, que cai ferido ao chão, instante em que Menelau agarrou-o pelo capacete e passou a arrastá-lo em direção às linhas dos soldados gregos. Com os cordões do elmo estrangulando o pescoço, Páris desmaiou.

A guerra de Troia teria chegado ao fim naquele momento. Vendo seu protegido à beira da morte, Afrodite desceu ao campo de batalha envolta numa nuvem de vapor e arrebatou Páris de volta a Troia.

Parecia que o fim tinha chegado. Menelau ficava atônito procurando o inimigo que acabara de vencer. Porém, a desgraça se abateu sobre a sorte. Um arqueiro troiano chamado de Pândaro dispara uma flecha em Menelau, acertando-o de raspão. O suficiente para escorrer sangue. A trégua foi rompida e a guerra continuou.

No próximo capítulo. A Guerra de Troia parte final.


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A guerra dos titãs e a ascensão de Zeus ao poder

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Kronos foi destronado e Zeus agora estava junto a seus irmãos e irmãs. Numa reunião, todos escolheram Zeus como novo líder. Porém, a consequência disso foi a guerra entre as duas gerações de deuses.

Os Titãs reuniram-se para defender seu poder. O velho Kronos, já cansado chamou seu sobrinho Atlas para chefiar os Titãs em combate.

A guerra estava declarada. As batalhas entre os dois lados sacudiram o Mundo. Zeus e seus irmãos conhecidos como Olímpicos eram bem organizados e inteligentes. Os Titãs eram mais brutais e violentos.

A guerra já durava dez anos, sem vitória para qualquer lado. Diante disso, Zeus foi se aconselhar com a sua avó, Gaia a Terra. A resposta de Gaia foi decisiva, Kronos e os Titãs só seriam derrotados, quando Zeus libertasse da prisão os ciclopes e os hecatônquiros, que estavam encarcerados no tártaro (inferno) por Kronos.

Zeus desceu ao inferno e derrotou o dragão Campe, guardiã das partes infernais, libertou os seis filhos da Gaia e os convenceu a se aliarem na guerra contra Kronos e os Titãs. Os ciclopes toparam na hora e logo deram a arma mais poderosa para Zeus, o relâmpago.

O exército de Zeus marchou contra os Titãs no Monte Ótris, soltando urros terríveis. “O mar infinito gemia, a terra retumbava forte, o próprio céu estremecia sob os golpes dos gigantes imortais”, escreveu Hesíodo na sua Teogonia.

O estrondo dos pés e a gritaria horrível dos brutamontes chegavam até as profundezas da terra. O relâmpago de Zeus incendiava tudo e fazia a água ferver. Cada hecatônquiro lançava, num só instante centenas de pedras contra a infantaria dos Titãs.

Ao final, Zeus e os Olímpicos venceram a guerra. Estava acabada a era dos Titãs. O titã Oceano, que se manteve neutro na guerra, foi deixado em paz. Enquanto Atlas, o comandante, um chefe dos Titãs, foi condenado a ficar de pé sobre uma montanha no norte da África, a carregar para sempre nas costas todo o peso do mundo.

A NOVA ORDEM DO UNIVERSO

Após a queda dos Titãs, o mundo foi dividido entre Zeus e seus irmãos, Poseidon e Hades. O domínio supremo ficou com Zeus, entretanto, seu reinado não foi nada tranquilo.

A divisão do mundo entre os irmãos, foi decidido na sorte. Dados foram balançados dentro de um capacete, sendo que cada resultado correspondia a uma região da terra. Assim, Zeus ficou com o céu. Poseidon com os mares e Hades com as temidas regiões subterrâneas.

ZEUS, O SEDUTOR

Zeus gostava de passar o tempo entre as nuvens, observando a terra lá embaixo. Tinha olhar apurado não apenas para perceber desordens em seu governo, mas também para localizar as mulheres. Ou seja, ficava espiando as meninas tomarem banho peladas. Acho que foi daí que nasceu o Big Brother da mitologia.

Para completar casou-se com sua própria irmã, Hera. O incesto também começou. Entretanto, Zeus praticava a infidelidade com tanta facilidade, que certa vez ele quase perdeu o trono. É que numa dessa escapadas, ele viu uma bela mulher sair das águas, era Tétis uma ninfa do Mar Mediterrâneo. Na hora Zeus se apaixonou por ela.

Mas antes que Zeus consumasse a sua vontade, recebeu um recado urgente trazido por Hermes, o mensageiro dos deuses que chegou voando, indo rapidamente falar com Zeus, sobre uma mensagem que lhe mandava Prometeu, que havia sido libertado por Héracles. Hermes disse aos ouvidos de Zeus as palavras proféticas: “Aquele que possuir a bela Tétis terá com ela um filho mais poderoso que o próprio pai”.

Naquele mesmo instante, Tétis escapou da tentação de Zeus. Pois, se havia uma coisa que ele não queria era perder o poder.(Quando eu escrever sobre a Guerra de Tróia, iremos saber com quem se casou a formosa Tétis).

Além disso, Zeus teve vários filhos fora do casamento, que futuramente iram lhe causar grandes transtornos. Se tivesse pensão alimentícia naquele tempo, Zeus deveria responder a muitos processos na Justiça.

BRIGA ENTRE FAMÍLIA

Nem tudo era tranquilidade no reino de Zeus. Aliás, famílias poderosas adoram intrigas. No Olimpo não foi diferente. O mando absoluto de Zeus começou a desagradar aos parentes. Principalmente Hera, sua esposa por causa da infidelidade do marido, pois já estava cansada de pegar chifre.

Poseidon, por sua vez nunca se conformou com o domínio total do irmão caçula. E Apolo, filho de Zeus e de sua amante, Letó, se considerava o melhor de todos os deuses, como herdeiro natural ao trono. Hera, Poseidon e Apolo se uniram para destronar Zeus. Enquanto este dormia, eles roubaram a sua arma maia poderosa, o relâmpago. Apolo tinha uma irmã gemêa, chamada Ártemis.

Enquanto isso, a ninfa Tétis, que amava Zeus, correu até o Mar Mediterrâneo e chamou o terrível hecatônquiro Briareu, um gigante de cem braços, que havia sido libertado da prisão por Zeus.

O monstro subiu ao Olimpo, fazendo com que os rebeldes fugissem apavorados. Zeus reconquistou o relâmpago e pôs ordem em casa, impondo castigos aos seus familiares. Sua mulher Hera, foi pendurada de cabeça para baixo Poseidon seu irmão e seu filho Apolo, foram obrigados a trabalhar como escravos para um simples mortal, o Rei de Tróia, Laomedonte. Assim esses dois deuses construíram as muralhas de Tróia, que jamais poderiam serdestruídas pelos mortais.

Mas, Zeus cancelou essas punições quando todos juraram fidelidade e a paz votou a reinar entre sua família.

AFRODITE, A deusa de tudo.

Afrodite

Duas versões explicam, o nascimento da deusa Afrodite, considerada a deusa do amor sagrado e do amor pecaminoso e também da fertilidade. Uma versão é que ela seria filha de Zeus e de uma de suas amantes chamada Dion.

A versão mais antiga é que no momento em que Urano foi castrado por Kronos, este lançou os testículos no mar, donde virou espuma e numa concha na praia nasceu Afrodite.

Deusa da beleza, do amor, das paixões, do matrimônio e também das traições. É a senhora da alegria, da elegância e do encantamento sexual.

Apesar de tudo isso, o destino reservou a bela Afrodite, um casamento com o homem mais feio dos deuses da mitologia grega chamado Hefesto.

Hefesto era somente filho de Hera, filho sem pai, pois sua mãe não aguentava mais a infidelidade de Zeus. Quando nasceu já era feio, quando cresceu a feiura aumentou.

Mas também grandes talentos surgiram no feioso Hefesto. Além de nada atraente, Hefesto tinha um gênio rabugento, era caladão, taciturno e um tanto rancoroso e ainda era manco de uma perna.

Jamais se conformava com a rejeição de sua mãe Hera. Pois quando nasceu daquele jeito, Hera o mandou para as profundezas subterrâneas.

Como era o melhor ferreiro do mundo, um dia para se vingar enviou ao Olimpo, um trono de ouro cravejado de joias, para a sua mãe.

A surpresa foi estarrecedora, quando sentou-se naquele majestoso trono, correntes inquebrantáveis saltaram do assento e acorrentaram Hera. A armadilha engenhosa de Hefesto nenhum deus era capaz de destruí-la.

Diante disso, Zeus para resolver o problema em casa, pois Hera não parava de gritar, mandou uma mensagem por Hermes a Hefesto, perguntando o que ele queria para libertar Hera. Disse Hefesto; “quero me casar com Afrodite, só isso”.

Como quem mandava na Grécia era Zeus, mesmo a contragosto Afrodite teve que casar-se com Hefesto.

ESCÂNDALO NA GRÉCIA

Mas Afrodite não deixou barato esse casamento arranjado por Zeus com quem ela não gostava. A resposta foi certa.

Um dos amantes de Afrodite, foi Ares deus da guerra, filho de Zeus e Hera. Quando seu marido Hefesto descobriu o caso, ele resolveu dar uma lição no casal. Como era um talentoso ferreiro, preparou uma rede de fios de bronze e a pendurou no teto acima da cama.

Dito e feito, quando Afrodite estava numa boa com Ares em cima da cama, apareceu Hefesto pegando-a de surpresa, soltando a rede de fios de bronze sobre eles. Logo em seguida, chamou todos os outros deuses para virem ver Afrodite e Ares naquelas condições. Porém, a única coisa que fizeram os curiosos foi se divertir e dar risadas dos amantes, que se debatiam na rede feito peixes.

O AMOR DE AFRODITE POR ADÔNIS.

Adônis era um belo jovem, amado tanto por Afrodite, mulher de Hefesto, quanto por Perséfone, esposa de Hades, rei do mundo subterrâneo.

Quando Adônis escolheu ficar com Afrodite, Perséfone enciumada ficou furiosa e contou tudo para Ares, que ainda tinha caso com Afrodite. Muito chateado com isso, Ares mandou um javali para matar Adônis. Não só para aleijar, foi para matar mesmo.

No entanto, Afrodite não queria perder Adônis e apelou a Zeus para que deixasse retornar a Terra. Zeus pensou bem e tomou a seguinte decisão. Todos os anos Adônis permaneceria seis meses no Mundo Subterrâneo com Perséfone, e os outros seis meses do ano passaria com Afrodite. Pelo jeito, Afrodite tem inspirado muita gente em Manaus.

HERMAFRODITA

Afrodite tinha outros amantes, inclusive o Deus Hermes, com quem teve um filho chamado Hermafrodita, que tinha atributos de ambos os sexos. Ou seja, era mulher e homem ao mesmo tempo.

Também teve um caso com o príncipe Troiano Anquises, pai de Enéias. Diz-se que, além disso, teve relacionamentos com os deuses Zeus, Pan, Dionísio e Priapo, deus da fertilidade.

 

Realmente, Afrodite é a musa inspiradora de muita gente.

No próximo capítulo: A Guerra de Tróia- A mãe de todas as guerras.


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